segunda-feira, outubro 06, 2008

Vulto da Primavera em pleno Outono...

(Courbet)

Nem todo o corpo é carne... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco...?

E o ventre, inconscientemente como o lodo?...
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo...

É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio

Vulto da Primavera em pleno Outono...
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!


(David Mourão Ferreira in «Obra Poética - 1948-1988»)

4 comentários:

  1. Como gostei de encontrar aqui o DMF. Um beijo.

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  2. :)
    quando comecei a ler adivinhei-o.
    erotismo sublime, o dele!
    Bom gosto, o teu!

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  3. Mais um belo soneto do David.
    No corpo de quem se ama, há sempre um mundo em permanente descoberta.

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  4. É impossível não comentar mais um delicioso poema de mestre David...

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