terça-feira, setembro 30, 2008

os seus muros parecem-me brancos...


(Aguarelas de Turner)
AS AMORAS

O meu país sabe a amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

(Eugénio de Andrade)

segunda-feira, setembro 29, 2008

Eu brincava debaixo da mesa...

(canal do Panamá)
Livros
Há livros que falam do canal do Panamá
Não sei o que dizem os catálogos das bibliotecas
E não ouço os diários das finanças
Embora os boletins da Bolsa sejam a nossa oração quotidiana

O Canal do Panamá está intimamente ligado à minha infância...
Eu brincava debaixo da mesa
Dissecava moscas
Minha mãe contava-me as aventuras dos seus sete irmãos
Dos meus tios
E quando recebia cartas
Deslumbramento!
Cartas com belos selos exóticos que trazem versos de Rimbaud no
exergo
Nesse dia já não me contava mais nada
E eu ficava triste debaixo da mesa.
Foi também por essa altura que li a história do tremor de terra de
Lisboa
Mas creio bem
Que a derrocada de Panamá é duma importância mais universal
Porque me perturbou a infância.

(Blaise Cendrars - Poesia em viagem)

domingo, setembro 28, 2008

Paul e Joanne




Ele teve de partir. Celebremos o brilho das suas interpretações e o seu amor.

sábado, setembro 27, 2008

sexta-feira, setembro 26, 2008

A história da moral

(Leonardo da Vinci)

Você tem-me cavalgado,
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.

Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.

(Alexandre O'Neill-poesias completas)

quarta-feira, setembro 24, 2008

Morto estará se amor não se sente...


Ninguém se espante se eu cantar
como nenhum outro cantor,
pois nenhum mais, só por amor,
tanto se deixa arrebatar.

Coração, corpo, alma, sentidos,
força e poder, tudo lhe entrego.
Em suas mãos, sou como um cego.
Nada mais tenho no sentido.

Morto estará, se amor não se sente,
quem não souber o seu sabor.
Que vale a vida sem amor?
Só enfadamos toda a gente.

(Bernart de Ventadorn-sec XII)

terça-feira, setembro 23, 2008

Eu murmurava, impressionado: -caramba!


Por uma conclusão bem natural, a ideia de Civilização, para Jacinto, não se separava da imagem de Cidade, com todos os vastos orgãos funcionando poderosamente. Nem este meu supercivilizado amigo compreendia que longe de armazéns servidos por três mil caixeiros; e de mercados onde se despejam os vergéis e lezírias de trinta fábricas fumegando com ânsia, inventando com ânsia; e de bibliotecas abarrotadas, a estalar, com a papelada de séculos; e de fundas milhas de ruas, cortadas, por baixo e por cima, de fios de telégrafos, de fios de telefones, de canos de gases, de canos de fezes; e da fila atroante de ónibus, tramways, carroças, velocípedes, calhambeques, parelhas de luxo; e de dois milhões de uma vaga humanidade, fervilhando, a ofegar, através da Polícia, na busca dura do pão ou sob a ilusão do gozo- o homem do séc. XIX pudesse saborear, plenamente a delícia de viver!
Quando Jacinto, no seu quarto 202, com as varandas abertas sobre os lilases, me desenrolava estas imagens, todo ele crescia, iluminado. Que criação augusta, a da Cidade! Só por ela, Zé Fernandes, só por ela, pode um homem soberbamente afirmar a sua alma!...
_ Oh Jacinto, e a religião? Pois a religião não prova a alma?
Ele encolhia os ombros. A religião! A religião é o desenvolvimento sumptuoso de um instinto rudimentar, comum a todos os brutos, o terror. Um cão lambendo a mão do dono, de quem lhe vem o osso ou chicote, já constitui toscamente um devoto, o consciente devoto, prostrado em rezas ante o Deus que distribui o Céu ou o Inferno!...Mas o telefone! O fonógrafo!
- Ai tens tu, o fonógrafo?...Só o fonógrafo, Zé Fernandes, me faz verdadeiramente a minha superioridade de ser pensante e me separa do bicho. Acredita, não há senão a Cidade, Zé Fernandes, não há senão a Cidade!
E depois (acrescentava) só a Cidade lhe dava a sensação, tão necessária à vida como o calor, da solidariedade humana. E no 202, quando considerava em redor, nas densas massas do casario de Paris, dois milhões de seres arquejando na obra da Civilização (para manter na Natureza o domínio dos Jacintos!)sentia um sossego, um aconchego, só comparáveis ao do peregrino, que, ao atravessar o deserto, se ergue no seu dromedário e avista a longa fila da caravana marchando, de lumes e armas...
Eu murmurava, impressionado:
-Caramba!

(Eça de Queirós- A Cidade e as Serras)

segunda-feira, setembro 22, 2008

Uma vibração global harmoniosa....

(Picasso)
Todos os cérebros do corpo

De facto, o coração é estimulado por 40 mil neurónios que constituem uma espécie de pequeno cérebro semi- autónomo. Através desses neurónios, mantém relações estreitas com o cérebro propriamente dito, localizado no crânio. Certos neurocientistas e cardiologistas como o Dr. J. Anfrew Armour, doutorado pela Uiniversidade de Montreal falam num« sistema coração- cérebro»integrado. Segundo o Dr. Michael Gershon, Presidente do Departamento de Patologia e Biologia Celular da Universidade de Columbia o intestino também possui vários milhões de neurónios que constituem mais outro «cérebro». Por último, como se descreveu anteriormente, a Drª Candace Pert do American National Institute of Health, demonstrou que existe uma constante intercâmbio de moléculas de informação entre o sistema imunitário e o cérebro. Juntos, como Spinoza previu, no sec. XVII, e como o grande neurologista Professor doutor Antóno Damásio, actualmente na Universidade da Califórnia do Sul em Los Angeles demonstrou, na viragem do sec. XXI, qualquer acontecimento consciente vibra em todos os órgãos do corpo e não apenas no cérebro. Há uma conversa permanente no interor do corpo. Existe uma constante troca de informação através de fibras nervosas do que é conhecido como sistema nervoso autónomo. À margem da vontade consciente, sem necessidade de orientação consciente, este sistema regula o ritmo cardíaco, a tenção arterial, a transpiração, etc. Para além do sistema nervoso autónomo, os órgãos também trocam informações através das hormonas, como descreve Candace Pert, formando uma rede paralela de comunicação. Em consequência disso, os impulsos, desejos e decisões do indivíduo são simplesmente a manifestação externa do sussurro de todas as células que, cada uma à sua maneira, tenta manter a vida à sua volta. E, por sua vez, influenciam esse pulsar. A « Saúde» é o resultado do equilíbrio entre todas essas trocas. Uma vibração global harmoniosa. Uma «alma» cuja base não se localiza em nenhum orgão em particular, mas é a propriedade emergente de todas as interacções. (...)

(David Servan- Schreiber- Anti-cancro)


O resto da leitura está nas vossas mãos....

domingo, setembro 21, 2008

David Servan-Schreiber- a partilha de uma experiência




Para os interessados, sugiro que pesquisem outros videos do autor.

sábado, setembro 20, 2008

Tocar a essência da vida...

(Redon)
Basta pronunciar a palavra«cancro» para suscitar medo da morte. O medo paralisa. É a sua natureza. Quando um antílope sente a presença de um leão, o seu sistema nervoso emite um sinal e ele pára. A evolução programou o antílope para preservar uma hipótese minúscula de sobrevivência em circunstâncias extremas: ao ficar imóvel, o animal tem mais probabilidades de não ser detectado. Talvez o leão passe por perto sem reparar nele.
Quando percebemos que a nossa vida corre grave perigo, é frequente sentirmos esta estranha paralisia. Mas a doença não nos passará ao lado. O medo bloqueia a nossa força de vida quando mais precisamos dela.
Aprender a combater o cancro consiste em aprender a alimentar a vida dentro de nós. Mas não é necessariamente uma luta contra a morte. Fazer esta aprendizagem é tocar na essência da vida, encontrar uma plenitude e uma paz que a tornem mais bela. A morte pode fazer parte desse sucesso. Algumas pessoas vivem a vida sem lhe darem o seu devido valor. Outros vivem a sua morte com tamanha riqueza e dignidade que parece ser um feito excepcional e dá significado a tudo o que passaram. Ao prepararmo-nos para a morte dessa forma, libertamos, por vezes, a energia necessária para viver.

(David Servan- Schreiber- Anti-cancro)

sexta-feira, setembro 19, 2008

..demonstrar a utilidade dos bróculos, das framboesas....


A validação de um medicamento anticancro até à fase da experiência em seres humanos custa 500 e 1000 milhões de dólares. Este tipo de investimento parece justificar-se se considerarmos que até o Taxol, um medicamento relativamente secundário no combate ao cancro, rende anualmente mil milhões de dólares à empresa detentora da patente. Por outro lado, do ponto de vista financeiro, não é possível investir tais quantias para demonstrar a utilidade dos bróculos, das framboesas, do chá verde, pois estes produtos não podem ser patenteados e a sua venda jamais cobrirá o investimento inicial. Mesmo quando existem, os estudos realizados em seres humanos sobre as vantagens dos alimentos no combate ao cancro nunca atingem o calibre dos ensaios clínicos com medicamentos. Os estudos realizados em animais são mais comuns, financeiramente comportáveis e podem ajudar-nos a perceber qual o caminho a seguir. Infelizmente, o conceito de que os ensaios realizados em ratos nada provam em relação aos seres humanos é verdadeiro.
Por tudo isto, é essencial incentivar as fundações e as instituições públicas a financiar estudos em seres humanos sobre os benefícios dos alimentos no combate ao cancro. No entanto, estou convencido de que não é necessário aguardar por tais resultados em larga escala para começar a incluir alimentos anticancro no nosso regime alimentar. Está claramente comprovado que o tipo de alimentação que adotei e que aqui recomendo, não apresenta qualquer risco e, pelo contrário, traz benefícios para a saúde que ultrapassam largamente os seus efeitos sobre o cancro. Este tipo de alimentação pode ter efeitos benéficos sobre a artrite, as doenças cardiovasculares, a doença de Alzheimer, etc.(cont.)

(David Servan- Schreiber-Anti-cancro)

quinta-feira, setembro 18, 2008

O açúcar e o cancro


Hoje em dia, o cancro é mais comum no Ocidente, e tem vindo a aumentar desde 1940. Assim sendo temos de analisar o que mudou nos nossos países desde a Segunda Guerra Mundial.
Ao longo do últimos 50 anos, três factores principais perturbaram drasticamente o ambiente em que vivemos:

1- A adição à nossa alimentação de grandes quantidades de açúcar altamente refinado.

2- As alterações nos processos agrícolas e pecuários, e, consequentemente, na nossa alimentação.

3- A exposição a um grande número de produtos químicos que não existiam antes de 1940.

Não se trata de mudanças circunstanciais. Temos todos os motivos para crer que estes três fenómenos têm um papel determinante no alastramento do cancro.Para nos protegermos temos primeiro de tentar compreendê-los.

(....)
Hoje em dia, as sondagens ocidentais sobre nutrição revelam que 56% das calorias que ingerimos provêm de três fontes que não existiam aquando do desenvolvimento dos nossos genes:

- açúcares refinados (açucar de cana e beterraba, xarope de milho, frutose, etc.)
- farinha refinada ( pão branco, massas brancas, arroz branco)
- óleos vegetais (feijão de soja, girassol,milho e gorduras trans)

Estas três fontes não contêm quaisquer minerais, proteínas, vitaminas ou ácidos gordos ómega 3 necessários ao funcionamento do nosso corpo. Por outro lado, alimentam directamente o desenvolvimento do nosso cancro.

O cancro alimenta-se de açúcar

O consumo de açúcar refinado subiu em flecha. Enquanto os nossos genes se desenvolveram num meio em que uma pessoa consumia, no máximo 2 Kg de mel por ano, o consumo humano de açúcar aumentou para 5 Kg por ano em 1830, e para uns chocantes 70 Kg por ano em finais do século XX.

O biólogo alemão Otto Heinrich Warburg recebeu o Prémio Nobel da Medicina pela sua descoberta de que o metabolismo dos tumores malignos estava, em grande medida, dependente
do consumo de glucose .( A glucose é a forma de açúcar digerido no organismo). Aliás, a PET(tomografia por emissão de positrões) geralmente usada para detectar o cancro simplesmente analisa as áreas do corpo que consomem mais glucose. Se uma área em particular se destacar por consumir demasiado açúcar, é muito provável que a causa seja o cancro.
(...)
Há boas razões para crer que o aumento do consumo de açúcar contribui para a epidemia do cancro, já que está associado a uma explosão de insulina e IGF no nosso organismo. Foram utilizados ratos inoculados com células de cancro da mama, para comparar o efeito no desenvolvimento dos tumores de diferentes alimentos com diversos níveis de açúcar no sangue. Após dois meses e meio, dois terços(16) dos 24 ratos cujo nível glicémico tinha picos frequentes haviam morrido, por oposição a apenas uns dos 20 ao qual foi dada uma laimentação com baixo indíce glicémico. É claro que esta experiência nunca poderia ser realizada em seres humanos.mas um estudo que compara a população asiática e a ocidental sugere o mesmo. Aqueles que fazem uma alimentação asiática, baixa em açúcar, tendem a ter cinco a dez vezes menos cancros de origem hormonal do que aqueles cuja alimentação é rica em açúcar e produtos refinados, como é típico da maior parte dos países industrializados.(cont.)

(David Servan- Schreiber-Anti-cancro)




quarta-feira, setembro 17, 2008

Pela primeira vez vi-a como ela era...

E, por outro lado, havia a incómoda questão da morte em si. A primeira reacção a um diagnóstico de cancro é, frequentemente, a incredulidade. Quando tentamos imaginar a nossa morte, a nossa mente insurge-se. Como se a morte só acontecesse aos outros. Tolstoi descreve esta reacção na perfeição, em a Morte de Ivan Ilych. À semelhança de muitos outros antes de mim, identifiquei-me com esta história. Ivan Ilych é juiz em S.Petersburgo. Tem uma vida perfeitamente regrada até ao dia em que adoece. Ninguém lhe diz a gravidade da sua doença. Quando, no final, se apercebe de que está a morrer, todo o seu ser se revolta contra a ideia. Impossível!

"Bem no fundo do coração ele sabia que estava a morrer, mas a questão não era só a de que não estava habituado á ideia, ele simplesmente não conseguia apreendê-la. O silogismo que tinha aprendido na Lógica de Kiezewetter: "Caio é homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal" sempre lhe parecera correcto quando aplicado a Caio, mas, claro, não aplicado a si próprio. Que Caio- homem em abstracto- era mortal estava perfeitamente correcto, mas ele não era Caio, não era homem abstracto, mas uma criatura bem individual, bem separada das outras. Tinha sido o pequeno Vanya, com uma mamã e um papá, com Mitya e Volodya, com brinquedos, um cocheiro e uma ama, depois com Katenka e com todas as alegrias, dores e deleites da infância, da adolescência e da juventude. O que é que o Caio sabia do cheiro daquela bola de couro às riscas de que Vanya gostava tanto? Caio tinha beijado assim a mão de sua mãe, e a seda do seu vestido tinha sussurado assim para Caio? Ele tinha-se rebelado assim na escola quando os pasteis não estavam bons? Caio tinha-se apaixonado assim? Podia Caio presidir a uma sessão como ele fazia? Caio era realmente mortal e estava certo que ele morresse; mas quanto a mim, o pequeno Vanya, Ivan Ilich, com todos os seus pensamentos e emoções, a coisa é completamente diferente. Não é possível que eu tenha de morrer. Isso seria terrível demais".

Antes de roçarmos a mortalidade, a vida parece-nos infinita, e preferimos manter essa perspectiva. Parece que nunca nos faltará tempo para irmos em busca da felicidade. Primeiro, tenho de acabar o curso, pagar os empréstimos, criar os meus filhos, reformar-me...mais tarde, hei-de preocupar-me com a felicidade. Quando deixamos para amanhã a procura do essencial, podemos deixar a vida escapar-nos poe entre os dedos sem sequer a termos saboreado.

Por vezes o cancro cura esta estranha miopia, esta dança de hesitações. Ao expor a brevidade da vida, um diagnóstico de cancro pode restituir à vida o seu verdadeiro sabor. Algumas semanas depois do meu diagnóstico, tive a estranha sensação de que se erguera um véu que, até então, me toldava a visão. Numa tarde de domingo, olhei para a Anna, no pequeno quarto solarengo da nossa minúscula casa. Concentrada e tranquila, estava sentada no chão, ao lado de uma mesa baixa, tentando traduzir para inglês poesia francesa. Pela primeira vez, vi-a como ela era, sem pensar se devia escolher outra companheira. Via simplesmente a madeixa do cabelo que deslizava graciosamente para a frente quando ela inclinava a cabeça para o livro, a delicadeza dos seus dedos a agarrar suavemente a cabeça. Fiquei surpreendido por nunca ter notado quão comoventes eram as contracções do seu maxilar quando tinha dificuldade em encontrar a palavra que procurava. De repente, vi-a como ela era, independentemente das minhas questões e das minhas dúvidas. A sua presença tornou-se incrivelmente comovente. O simples facto de poder presenciar aquel momento parecia-me um imenso privilégio. Porque nunca a vira assim ,antes?

(continua)

(David Servan- Schreiber- Anti-cancro)

terça-feira, setembro 16, 2008

Há sete anos que o mantenho à distância...


A semana que hoje se inicia será dedicada a um livro que "devorou" quase toda a minha atenção a semana passada. Não se trata de um romance, de um belo livro de poesia ou de uma obra filosófica... David Servan-Schreiber, investigador da Universidade de Pittsburgh, descobre aos trinta e um anos , por acaso, que tem um tumor cerebral. Enceta, a partir de então uma fabulosa caminhada na recolha de uma vastíssima informação sobre métodos naturais para prevenir e ajudar a tratar o cancro. Nesse trabalho verdadeiramente hérculeo ele também se vai transformar ...


Existe um cancro adormecido em todos nós. À semelhança de todos os seres vivos, o nosso organismo produz constantemente células defeituosas. É assim que surgem os tumores. Mas o nosso organismo também está equipado com mecanismos que detectam e controlam essas células. No Ocidente, uma pessoa em cada quatro morrerá de cancro,mas três em cada quatro não morrerão. Os seus mecanismos de defesa entrarão em acção , e elas morrerão devido a outras causas.
Eu tenho um cancro. Foi diagnosticado pela primeira vez há 15 anos. Submeti-me a tratamentos e o cancro entrou em remissão, mas tive uma recidiva. Decidi então aprender tudo o que pudesse para ajudar o meu organismo a defender-se da doença. Enquanto médico, investigador e ex-director do Centro de Medicina integrativa da Universidade de Pittsburgh, tinha acesso a informações de valor inestimável sobre métodos naturais para prevenir o cancro. Há sete anos que o mantenho à distância. Neste livro gostaria de contar-lhes as experiências-científicas e pessoais. por que passei e com as quais aprendi .

(David Servan- Schreiber- Anti-cancro)

segunda-feira, setembro 15, 2008

Justiça para Flávia!

("Aguarelas de Turner"-colagem a partir da fotografia de Flávia aos 9 anos)

"Em matéria de direitos humanos, identifico-me com todas as vítimas, sejam elas quais forem.Por isso fui americano no alto do Word Trade Center, como fui judeu em Auschwitz, alemão em Dresden, japonês em Hiroxima e Nagasaqui, negro no apartheid da África do Sul, marinheiro soviético em Kronstandt, herege na Inquisição, réu nos processos de Mosccovo, tchetcheno em Grozni, chinês em Tiananmem, palestiniano em Gaza e na Cisjordânia. E hoje, como não podia deixar de ser, sou iraquiano em Bagdade e Bassorá."

António Marinho Pinho (actual Bastonário da Ordem dos Advogados portuguesa in "as faces da Justiça")

Impossível não nos interrogarmos e não nos revoltarmos quando pensamos na forma como a Justiça adia em fazer-se ouvir. Impossível não pensar como que a balança anda mesmo muito desequilibrada. Flávia, e todas as crianças que têm sofrido acidentes desta natureza, merecem que a verdade não mais seja adiada.

Blogagem Colectiva para Flávia em 9/Set/2008 http://flaviavivendoemcoma.blogspot.com/

domingo, setembro 14, 2008

De Sábado para Domingo um filme- A Ponte do rio Kwai




Revi há dias esta obra incontornável . Um filme que não envelheceu.
Uma vez mais, os sete Óscares!

sábado, setembro 13, 2008

Com filosofia não há árvores...

(Van Gogh)

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio,
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores; há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora:
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

(Fernando Pessoa -Ficções do Interlúdio)

sexta-feira, setembro 12, 2008

Era o símbolo da paixão que gozávamos...

(Magritte)
(...)

Colocou a sua mãozinha sobre a minha e pôs-se a rir novamente, enrugando deliciosamente o narizinho; o seu riso era tão límpido, tão ligeiro e espontâneo que decidi imediatamente não resistir ao amor que sentia começar a nascer dentro de mim.
Nessa tarde, fomos passear de braço dado para a beira-mar. A nossa conversa foi cheia de fragmentos das nossas vidas sem rumo, sem plano geométrico. Não tínhamos nenhum gosto em comum. Os nossos caracteres e predisposições eram completamente diferentes, e entretanto, na mágica facilidade desta amizade, sentíamos que algo nos estava prometido. Também gosto de recordar o primeiro beijo junto ao mar, com o vento a brincar-lhe nos cabelos- Um beijo interrompido pelos acessos de riso que a tomavam quando se recordava do meu lastimoso discurso. Era o símbolo da paixão que gozávamos, da sua índole e da sua superficialidade: da sua caridade.

(Lawrence Durrel- Justine)

quinta-feira, setembro 11, 2008

Sê como és: o sol é bom, o ar vivaz..



Sê como és: o sol é bom,
o ar vivaz.
Do azul aos azuis, do verde aos verdes,
a terra é menina e o tempo rapaz.


Também tu és menina
(um bichinho rebelde, de tão natural!)
e correr descalça era mesmo o que querias,
mas seria indecente nesta capital...


E enquanto, doutro verde possuído,
em versos me explico, bem ou mal,
à primavera corres, já descalça,
por uma relva ideal!

(Alexandre O'Neill- Poesias completas)

quarta-feira, setembro 10, 2008

Tão-pouco sabia porque as guardava assim....

(Gatineau)
Depois do meio-dia, o tempo correu veloz. Pela meia-tarde já ela tinha experimentado o vestido de noiva várias vezes, para o tornar a vestir rapidamente, pensando ser demasiado cedo para se aprontar. Da última vez desdobrou-o com todo o cuidado em cima da cama, ao lado das meias de seda, dos sapatinhos de pelica, do véu arrendado e das roupas interiores de seda, tudo branco.
Nem na cama, nem em qualquer outro sítio do quarto havia lugar onde ela se pudesse deitar para repousar. Voltou para a cadeira, a olhar minuto a minuto o relógio da cómoda, e depois para fora da janela, onde o ar continuava cheio de folhas de bordo que vinham, rodopiando, bater nas vidraças, para ir cair em baixo, no relvado.
A certa altura, deslumbrada pela beleza dos reflexos vermelhos que a folhagem fazia perpassar nas paredes, correu à janela, levantou a guilhotina e curvou-se para fora, a apanhar nas mãos quantas folhas podia. Tornou a avistar o irmão: continuava a martelar pregos nos bancos, rntre os troncos dos bordos. Desejou chamá-lo, dizer-lhe que parasse de trabalhar e subisse ao quarto dela. Quando teve consciência de que estava prestes a fazer, desatou a tremer com tal violência que se assustou. Antes que ele a avistasse, tornou a fechar a janela e atravessou o quarto a correr, com os braços carregados de folhas vermelhas e amarelas; parou junto da cama e começou a soltá-las devagar, uma a uma sobre a brancura luminosa das roupas de noivado. Não sabia porque o fazia, a não ser que gostava de as ver cair e espalhar-se sobre a alvura das sedas. Pareceu-lhe que a cor da folhagem tornava mais bela que nunca a textura das roupas.
Passado um pouco, inclinou-se a recolher as folhas uma a uma, depois levou-as para a cómoda e meteu-as na boceta das jóias. Tão-pouco sabia porque as guardava assim, nem porque pensava em as levar consigo: sabia apenas que desejava conservá-las, mais do que outro objecto do seu quarto. Quando estivessem na casa nova, ela e o Frank, havia de tirá-las da caixa e espalhá-las na cama, e a vista delas havia de a fazer chorar.(...)
Mas, fosse qual fosse a razão do encanto daquelas folhas, sabia que as ia guardar para sempre.

(Erskine Caldwell- Uma Luz ao escurecer)

terça-feira, setembro 09, 2008

que do passado guarda a ânsia nocturna das esperas...

(Cezanne)

A pequena cidade da infância
é, como um sonho, turva ainda sob
o céu- que do passado guarda a ânsia
nocturna das esperas-onde coube


toda a vida futura Não a soube
ela ver das estrelas na abundância
ardendo, tal aquele a quem alguém roube
o tempo por viver sem que a constância

dos dias o ignore Essas estrelas
como num sonho soltam-se perdidas
da constelação rápida que tinha

do tempo a forma Ó vã cidadezinha
antes de qualquer tempo sobre a vida
mataste o tempo que te come agora

Gastão Cruz (1941)
Crateras

domingo, setembro 07, 2008

E ficámos assim durante anos...

(Caravaggio)
(...)

O POEMA da duração é um poema de amor.
Trata de um amor à primeira vista,
a que se seguem ainda numerosos olhares como esse primeiro.
E este amor
não tem a duração em nenhum acto,
mas sim num num antes e depois,
em que, mediante o outro sentido do tempo do acto de amar,
o antes foi também depois
e o depois também antes.
Já nos tínhamos unido
antes de nos termos unido,
continuámos a unir-nos
depois de nos termos unido
e ficámos assim durante anos,
deitados ao lado um do outro,
anca contra anca, respiração na respiração.

Peter Handke (1942)
Poema à Duração

De Sábado para Domigo um filme- Wall-e



O "Aguarelas de Turner" retoma, a partir de hoje, o estilo anterior às férias. Já tenho saudades da anterior forma do blog onde a pintura e a fotografia se cruzam com a poesia, literatura, filosofia...
A música e a referência a um filme, semanalmente, também não deixarão de aparecer.

Escolhi hoje o Wall-e para reabrir a nova época. Embora tivesse lido várias referências extremamente promissoras fui vê-lo um pouco "à defesa". Uma grande produção, um filme da Walt Disney, fez-me temer algo que me deixasse desconfortável. O que me aconteceu foi o contrário. Fui logo cativada a partir dos primeiros momentos do filme. Em primeiro lugar, um filme extremamente sério sobre a nossa actual sociedade e sobre os riscos de vida que ela corre. Não há reciclagem que salve uma sociedade desenfreadamente consumista. A metáfora do robot Wall-e (Waste Allocation Load Lifters), o último da sua série, "vivendo" um dia-a-dia solitário, tendo como única companheira a indestrutível barata, com a qual vai construindo uma relação. Resta-lhe ainda a sua colecção de objectos recuperados onde são visíveis os despojos da civilização desaparecida, entre eles uma cassette de Hello, Dolly! que revê vezes sem conta bebendo aí toda a sua "humanização".
É neste cenário completamente apocalíptico que Wall-e é visitado por uma robot extra-terrestre que, vinda de uma estação espacial onde se encontram os últimos homens, vem pesquisar sinais de vida no planeta Terra. Um encontro extremamente tumultuoso, através de uma variedade de sons diferentes, acontece entre os dois, gerador das primeiras palavras - os seus nomes. A capacidade de humanizar estes dois robots emprestando-lhes , em capacidade nascente, a maravilha do encontro amoroso onde poucas palavras são necessárias, deixa-nos completamente emocionados. Recuamos ao filme mudo em que a leitura das emoções não se fazia de forma imediata ou directa mas através da capacidade do espectador se indentificar com o não-verbal dos personagens.
O resto ficará para cada um de vós descobrir. E asseguro que vale a pena.

sábado, setembro 06, 2008

Notas esparsas de férias- despedida do Verão

(Aguarelas de Turner)

A separação é inerente às nossas vidas. Todos os dias dizemos adeus a qualquer coisa ou a alguém. Por um período maior ou menor preparamo-nos para enfrentar essa partida, levando na "mochila" todas as pequenas partículas que nos coloriram os dias. Amanhã voltaremos, sabendo que o reencontro nunca será uma repetição, antes uma redescoberta da vitória da vida sobre a morte.

sexta-feira, setembro 05, 2008

Duerme tu, gato mío, como un dios perezoso...

(Aguarelas de Turner)


Federico García Lorca (Poema inédito até 1986)

Canción novísima de los gatos

Mefistófeles casero
está tumbado al sol.
Es un gato elegante con gesto de león,
bien educado y bueno,
si bien algo burlón.
Es muy músico; entiende
a Debussy, más no
le gusta Beethoven.
Mi gato paseó
de noche en el teclado,
¡Oh, que satisfacción
de su alma! Debussy
fue un gato filarmónico en su vida anterior.
Este genial francés comprendió la belleza
del acorde gatuno sobre el teclado. Son
acordes modernos de agua turbia de sombra
(yo gato lo entiendo).
Irritan al burgués: ¡Admirable misión!
Francia admira a los gatos. Verlaine fue casi un gato
feo y semicatólico, huraño y juguetón,
que mayaba celeste a una luna invisible,
lamido (?) por las moscas y quemado de alcohol.
Francia quiere a los gatos como España al torero.
Como Rusia a la noche, como China al dragón.
El gato es inquietante, no es de este mundo. Tiene
el enorme prestigio de haber sido ya Dios.
¿Habéis notado cuando nos mira soñoliento?
Parece que nos dice: la vida es sucesión
de ritmos sexuales. Sexo tiene la luz,
sexo tiene la estrella, sexo tiene la flor.
Y mira derramando su alma verde en la sombra.
Nosotros vemos todos detrás al gran cabrón.
Su espíritu es andrógino de sexos ya marchitos,
languidez femenina y vibrar de varón,
un espíritu raro de inocencia y lujuria,
vejez y juventud casadas con amor.
Son Felipes segundos dogmáticos y altivos,
odian por fiel al perro, por servil al ratón,
admiten las caricias con gesto distinguido
y nos miran con aire sereno y superior.
Me parecen maestros de alta melancolía,
podrían curar tristezas de civilización.
La energía moderna, el tanque y el biplano
avivan en las almas el antiguo dolor.
La vida a cada paso refina las tristezas,
las almas cristalizan y la verdad voló,
un grano de amargura se entierra y da su espiga.
Saben esto los gatos mas bien que el sembrador.
Tienen algo de búhos y de toscas serpientes,
debieron tener alas cuando su creación.
Y hablaran de seguro con aquellos engendros
satánicos que Antonio desde su cueva vio.
Un gato enfurecido es casi Schopenhauer.
Cascarrabias horrible con cara de bribón,
pero siempre los gatos están bien educados
y se dedican graves a tumbarse en el sol.
El hombre es despreciable (dicen ellos), la muerte
llega tarde o temprano ¡Gocemos del calor!

Este gran gato mío arzobispal y bello
se duerme con la nana sepulcral del reloj.
¡Que le importan los senos (?) del negro Eclesiastés,
ni los sabios consejos del viejo Salomon?
Duerme tu, gato mío, como un dios perezoso,
mientras que yo suspiro por algo que voló.
El bello Pecopian (?) se sonríe en mi espejo,
de calavera tiene su sonrisa expresión.

Duerme tu santamente mientras toco el piano.
este monstruo con dientes de nieve y de carbón.

Y tú gato de rico, cumbre de la pereza,
entérate de que hay gatos vagabundos que son
mártires de los niños que a pedradas los matan
y mueren como Sócrates
dándoles su perdón.

¡Oh gatos estupendos, sed guasones y raros, y tumbaos panza arriba bañándoos en
el sol!


As palavras ficam sempre para cá do sentir. Envergonhamo-nos de escrever com as palavras a escrita do coração. Na nossa conversa de hoje, querido Vasco, faltou qualquer coisa, talvez isto:
"O vosso querido amigo olha-vos lá do seu lugar, pisca-vos o olho, como se vos dissesse: estou bem, descansem. Não deixámos nada por fazer . Tudo aquilo que nos aconteceu vai continuar a povoar todos os meus sonhos".

quinta-feira, setembro 04, 2008

Notas esparsas de férias- anoitece em S.Martinho


(Aguarelas de Turner)
Depois de um jantar de peixe confeccionado a rigor, a baía de S. Martinho iluminara-se, como que se quisesse apresentar as suas despedidas. Foi um prazer contemplar a serenidade destas águas iluminadas no silêncio desse fim de tarde.



quarta-feira, setembro 03, 2008

Notas esparsas de férias-S.Martinho em tons de azul

(Aguarelas de Turner)

O prazer de fotografar está , em grande parte, associado à descoberta das nuances que a luz proporciona. São elas que nos permitem olhar como quem pinta, esperando ainda que o acaso se possa unir àquele momento de forma feliz, fazendo "surgir um novo lugar".

terça-feira, setembro 02, 2008

Notas esparsas de férias- observando S.Martinho do Porto

(Aguarelas de Turner)

Voamos um pouco quando observamos de um ponto alto. Podemos ter uma melhor noção do relevo, dos recortes das baías e enseadas, o que nos permite sentir, por momentos, uma certa ilusão de domínio. A escala da observação passa da parte para o todo e nós julgamos abarcar tudo...

segunda-feira, setembro 01, 2008

Notas esparsas de férias-entardecer no vale


(Aguarelas de Turner)

Múltiplos são os tons do entardecer no campo...Captá-los, é tentar dizer um pouco do que se sente nesses fins de tarde.