domingo, abril 29, 2007

Se tanto me dói que as coisas passam...



Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem

( Sophia de Mello Breyner Andresen)

QUINZE ANOS DEPOIS!



Estamos todos felizes pela forma como aproveitaste este intervalo do tempo para te fazeres quase um homem...Embora te faltem, ainda, uns escassos anitos mostra-nos já a qualidade que te habita, pela capacidade que sempre demonstras de perceberes os outros sem que para isso tenham de dizer muito...Esta capacidade não está ao alcance de todos. Muitos percorrem toda a sua existência sem nunca a terem alcançado! Com este capital terás capacidade para desbravar mesmo os terrenos mais agrestes...Guarda-o bem e desenvolve-o, se puderes. A VIDA está toda à tua frente...
Parabéns QUERIDO filho!

sábado, abril 28, 2007

JOBIM e CHICO, uma boa companhia..

sexta-feira, abril 27, 2007

E no entanto procuro...

(Aivazovsky)

Décimo Poema do Pescador

Nem sempre o robalo vem
nem sempre ele traz aquele inexplicável e fundo
mistério de pulsar como o coração de alguém
ou talvez como o próprio coração do mundo.

Nem sempre me toca a graça e nem sempre está
o vento de feição. E no entanto procuro
incansavelmente procuro o não sei quê que já
muitas vezes me trouxe o coração no escuro.

Não há senão esse buscar. Esse incessante
navegar pelo sonho essa viagem
de Ulisses sem regresso. Como alma errante
não mais um viajante de passagem.

( Manuel Alegre- Senhora das Tempestades)

quinta-feira, abril 26, 2007

Todas as estradas que abrimos...





lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

( Mário Cesariny)

quarta-feira, abril 25, 2007

INESQUECÍVEL!

SEI QUE ESTÁS EM FESTA, PÁ...



Tanto Mar (Versão I)


Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo pra mim

Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim

Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também que é preciso, pá
Navegar, navegar

Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim


(Chico Buarque)

terça-feira, abril 24, 2007

Amoureux et savants dites qu´est-ce que l´homme?



Amoureux et savants

Amoureux et savants qui avez le génie
la patience et le goût d'approfondir la vie,
tout ce que nous pouvons et tout ce que nous sommes.
Amoureux et savants dites qu'est-ce que l'homme ?
Ce corps fait pour la faim et la soif et l'effort,
et le vieillissement, les frissons et la mort,
ou bien cet univers cette harmonie parfaite
dès que l'esprit l'éclaire et que l'âme s'y reflète.
Amoureux et savants dites qu'est-ce que l'homme ?
Nos pieds baignent dans l'eau mais la source est cachée,
il faut la chercher seul très haut sur les montagnes
comme le vrai amour au bout du sacrifice.
On a soif, on renonce, on boit là où l'on est,
on s'aime comme on peut, on échange ses vices,
ses jours de plénitude et ses années de vide,
on s'exerce au plaisir, jamais à la maîtrise,
on se couvre de vase et on s'idéalise,
les hommes d'un côté, les femmes de l'autre,
jamais vraiment uni, jamais vraiment sincère,
orgueilleux et bavards on meurt, on s'accompagne,
résonnant sur ce monde et résonnant sur l'autre,
on quitte cette vie ne l'ayant pas comprise
tout nu et à grand peine on entre et sort du temps,
et le plus amoureux comme le plus savant,
celui qui s'extasie, celui qui persévère,
après bien des années, après bien des souffrances,
sait reconnaître en tout le goût de la poussière,
mais parfois parmi nous un chant d'amour s'élève
qui guérit le malade et nous rend l'espérance,
le chant des incompris, la voix pourtant si claire
de ceux qui ont vécu, de ceux qui ont souffert
avec humilité, avec intelligence,
et un monde s'éveille où règne la lumière.
Monde où l'amour et l'eau sont d'une autre nature,
L'amour a la clarté des sources les plus pures
et l'eau comme l'amour donne donne la vie. (bis)


(Giani Esposito)

segunda-feira, abril 23, 2007

Aquece tu , ó sol, jardins e prados...



Canção de primavera

Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.

Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.

Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.

Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?

(José Régio)

La vida sin más...




BIOGRAFÍA

La vida que murmura. La vida abierta.
La vida sonriente y siempre inquieta.
La vida que huye volviendo la cabeza,
tentadora o quizá, sólo niña traviesa.
La vida sin más. La vida ciega
que quiere ser vivida sin mayores consecuencias,
sin hacer aspavientos, sin históricas histerias,
sin dolores trascendentes ni alegrías triunfales,
ligera, sólo ligera, sencillamente bella
o lo que así solemos llamar en la tierra.



Gabriel Celaya

domingo, abril 22, 2007

UM DOMINGO COM CHOPIN E POLLINI

(Nocturne no. 8 op. 27 no. 2)

Reflexos do Olhar LXXXVI

(Aguarelas de Turner)

sábado, abril 21, 2007

Formas de violência

(Pablo Picasso)

FORMAS DE VIOLÊNCIA

Chamar - não muito longe, a montante do tempo - "Escrivão da pena grande" ao varredor
municipal do lixo.
Escrever e publicar um livro com o título de «O Preto que tinha a alma branca».
Macaquear, ainda que por olvidada ancestralidade colonialista o falar dos Brasileiros.
Conceber, fabricar e pôr à venda bonecas e bonecos assexuados.
Abominar, ao ponto de proibir ou desejar ver proibir, os brinquedos chamados belicistas, com
o pretexto de que são de um «realismo atróz» ou de que - pior ainda! se é pacifista. (Por estas e por outras é que há muito consequente pacifista que chega a adulto desarmado. É caso para perguntar:« E a paz quem a defende? E como?»)
Noticiar rixas urbanas ou suburbanas, ocorridas naquele mundo que os cronistas castiços apodam de «as alfurjas», identificando como «caboverdianos» alguns caboverdianos, entretanto «integrados», que nela possam ter participado. (Para remover o lixo citadino, não precisam de pátria ou nome; para anavalhar ou capoeirar o cidadão,sim.)
Votar de braço ao alto (quase nunca ao baixo).
Deixar-e, em certos casos, também o não deixar - que, pelo regaço daquela que nos serviu dezenas de anos, continuem a escorregar e a traquinar os filhos dos nossos filhos, já que-nossa desculpa-« ela é tão dedicada!»
Desaconselhar ou desacreditar a prática da política com razões deste jaez:« o que o povo quer é trabalhar em paz.»(E se o povo quizer trabalhar em zás-trás-pás?).
Perguntar - como, microfone na mão, se perguntou- a uma velha camponesa transmontana:« A senhora sabe o que é a política?» (Lá do seu universo ela respondeu que não sabia, mas, quem, realmente, mostrou que não sabia, cá do nosso universo, foi o perguntador, rapaz de boas maneiras, mas de fracas ideias, um que pensa, afinal, que a água começa nas torneiras...)

(Alexandre O'Neill)

Reflexos do Olhar LXXXV

(Aguarelas de Turner) para todos os gostos...

sexta-feira, abril 20, 2007

Era a emoção súbita...

(Aivazovsky)
UM MAR

era um mar desmesurado
demasiado mar
e ondas
e poder
e grito por vir

era a emoção súbita
a revelar ao meu corpo
sua natureza fragilíssima
sua pequena natureza humana

era o mar a crescer-me no peito
vozes do mundo
homens e mulheres no amor

era o mundo líquido
suspenso entre a minha respiração
e o vértice da minha vida

(Sílvia Schueire)

PAPAGENO, PAPAGENA...




(oferta de uma amiga)

quinta-feira, abril 19, 2007

Sem palavras...


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(Mitsuko Uchida-Concerto nº9-2 nd;Mozart)

quarta-feira, abril 18, 2007

Não basta abrir a janela..


(Turner)

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.

(Alberto Caeiro)

terça-feira, abril 17, 2007

Reflexos do Olhar LXXXIV

(Aguarelas de Turner)

segunda-feira, abril 16, 2007

Porque há em nós algo ...incomunicável...



"A poesia tem sido para mim uma forma de libertação. Não se pode dizer que seja uma expressão simples, fácil, o que a poesia procura é algo que de certa maneira ela não consegue admitir. Quer dizer, a finalidade do poeta é escrever, criar um texto que tenha uma certa coerência, que tenha a coerência da incoerência (como diz um crítico francês). Mas é o que está para além das palavras, é o horizonte das palavras e é realmente o que é fundamental. Não só as palavras poéticas me fascinam mas aquilo para que elas apontam, o horizonte para que apontam, o espaço para que elas se dirigem é que é realmente a realidade imaginária e real; essa é que é a finalidade porque há em nós algo que é indefinível, incomunicável e indescritível. O poeta pode suscitar a possibilidade de tornar actual (no sentido real) certas virtualiades, que se concentram no desejo do homem, numa espécie de corpo que ele quer encontrar, como que penetrar nesse corpo /uma criação, mas também uma realidade exterior, cósmica)."

António R. Rosa, in entrevista concedida a Patrícia Valinho

domingo, abril 15, 2007

Una furtiva lágrima...




(Pavarotti)

Abril anda à solta nos pinhais...


Abril

Brinca a manhã feliz e descuidada,
como só a manhã pode brincar,
nas curvas longas desta estrada
onde os ciganos passam a cantar.

Abril anda à solta nos pinhais
coroado de rosas e de cio,
e num salto brusco, sem deixar sinais,
rasga o céu azul num assobio.

Surge uma criança de olhos vegetais,
carregados de espanto e de alegria,
e atira pedras às curvas mais distantes
- onde a voz dos ciganos se perdia.

(Eugénio de Andrade)

sábado, abril 14, 2007

lisboa é cor de rosa e branco...



podes caber à larga e não à justa no elevador de
[santa justa,
não te leva a parte nenhuma no sentido utilitário
[ normal,
mas é a nossa torre eifel. faz a experiência, por sinal
é um caso em que não custa aprender à nossa custa:
variamente na vida e na ascese se flibusta,
e aprender à nossa custa é muito mais ascencional.

podes subir até ao miradouro se a altura não te
[assusta:
lisboa é cor de rosa e branco, o céu azul ferrete é
[tridimencional,
podes subir sozinho, há muito espaço experimental.
noutros elevadores há sempre alguém que barafusta,
mas não aqui: não fica muito longe a rua augusta,
e em lisboa é o único a subir na vertical.

(Vasco Graça Moura)

sexta-feira, abril 13, 2007

Escolhe teu diálogo...

(Cremona)

Há tantos diálogos

Diálogo com o ser amado
o semelhante
o diferente
o indiferente
o oposto
o adversário
o surdo-mudo
o possesso
o irracional
o vegetal
o mineral
o inominado

Diálogo consigo mesmo
com a noite
os astros
os mortos
as idéias
o sonho
o passado
o mais que futuro

Escolhe teu diálogo
e
tua melhor palavra
ou
teu melhor silêncio
Mesmo no silêncio e com o silêncio
dialogamos.


Drummond: 100 anos
Carlos Machado, 2002 Carlos Drummond de Andrade
In Discurso de Primavera & Algumas Sombras
José Olympio, 1977
© Graña Drummond

quarta-feira, abril 11, 2007

Num esforço de amanhã hei-de nascer...

(Seurat)

POEMA DO AMANHÃ


Num esforço de amanhã hei-de nascer
e dizer aos homens de hoje quem eu sou.


Manuela Amaral

terça-feira, abril 10, 2007

Piaf de volta!

Para quê mentir sobre coisas destas?

(Renoir)



Gato Doméstico

« Agrada-me estar entre mulheres bonitas,
Para quê mentir sobre coisas destas?
Volto a dizê-lo:
Agrada-me conversar com mulheres bonitas
Embora não digamos senão tolices.


O ronronar das invisíveis antenas
É estimulante e delicioso ao mesmo tempo.»

(Ezra Pound )Assinar a Pele-antologia de poesia contemporânea sobre gatos-

segunda-feira, abril 09, 2007

Reflexos do OlharLXXXII

(Aguarelas de Turner) fragilidade e beleza

domingo, abril 08, 2007

Reflexos do Olhar LXXXI

(Aguarelas de Turner) Luz coada

Uma Boa Páscoa!

sábado, abril 07, 2007

Zumbido canta a Primavera


(Doisneau)

Se, na frieza destes dias,
eu fosse capaz de sentir a primavera
e acreditar que no subterrâneo das evidências
se desenvolvia a desordem natural das coisas,
talvez fosse capaz de escrever,
com legítima segurança,
sobre a maneira eficaz
que a natureza tem de celebrar os ciclos.

Diria então
que cada palavra tem ao seu alcance
um universo que nasce de um momento
ou de uma pausa
e cresce inútil na veemência e no acento
com que procura o rosto opaco que a recebe.

Como a moeda, cara ou coroa,
deixa ao destino o sentido
e perde, uma a uma todas as sílabas do ritmo.

Mas, o aquecimento global da verdade,
trouxe para o horizonte novas ordens,
e no lugar das marés cintilantes
arrefeceu em vagas o calor da pele.

Esperamos então que a seguir,
no rescaldo dos dias perdidos,
o calendário natural se cumpra.


Zumbido

Reflexos do OlharLXXX

Aguarelas de Turner)


O "MEU" Brassens!

sexta-feira, abril 06, 2007

Je ne regrette rien...

Fazer poesia é uma forma de jardinagem...




fazer poesia é uma forma
de jardinagem:

manipular as plantas,
as coisas vivas.

umas fenecem,

outras surpreendem-nos
ao acordar,

pela carne
que discretamente
desenvolveram
durante a noite,

pelo tacto de veludo,
pela luz que parece
vir do seu centro.

às vezes, há uma flor que pende
no meu escritório,
e eu diria perdida.

e subitamente, a mesma flor
ressurge
no canteiro da varanda,
no lado oposto da casa.

fazer é polinizar,
provocar efeitos,

mas nunca se sabe
para que tempo,
nem a que distância.

( Victor Oliveira Jorge)

in poesia.net
www.algumapoesia.com.br
Carlos Machado, 2007

quinta-feira, abril 05, 2007

BREL sempre





Apetece-me rever toda a sua autenticidade.

quarta-feira, abril 04, 2007

Desafio da Primavera- O´SANJI respondeu




torço
a mão
traço
a trama
troco
a meada

troço
de mim

travo
o sentido
trago
a sede
tranco
o desejo

tudo
num tropel

que me
trucida



O'Sanji

terça-feira, abril 03, 2007

Eu roubo o meu lugar ao ar...



Sobre o mar, por toda a parte ao mesmo tempo, abrem-se flores de que creio ouvir o impulso dos caules a mil metros de profundidade. O oceano cospe a sua seiva em eclosões de espuma. Permaneci nos vestíbulos quentes e lodosos da terra, que me cuspiu da sua profundidade. E eis-me chegada. Vimos à superfície. Há espaço suficiente para que todo o oceano venha rebentar ao sol, para que cada parte de água despose a forma de ar e amadureça no seu contorno. Existe a minha que os olha. Eu sou flor. Todas as partes do meu corpo se abriram sob a força do dia, os meus dedos que se abrem da palma da minha mão, as minhas pernas, do meu ventre, e até à extremidade dos meus cabelos, a minha cabeça. Experimento a lassidão orgulhosa de ter nascido, de ter chegado ao termo deste nascimento. Antes de mim, não existia nada no meu lugar. Agora, existo no lugar do nada. É uma susessão difícil. Daí sem dúvida o sentimento de ser uma ladra do ar. Agora sabemos e sentimos o prazer em ter vindo ao mundo. Eu roubo o meu lugar ao ar,mas estou contente.Aí está. Ali estou. Estendo-me. Está agradável. Sou uma farinha ao sol.

(Marguerite Duras)Vida Tranquila

segunda-feira, abril 02, 2007

Há que sentar-se na beira ...e pescar a luz caída...




SE CADA DIA CAI


Se cada dia cai
dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa .


Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída

(Pablo Neruda)

Reflexos do Olhar LXXIX

(Aguarelas de Turner) apetece-me recordar...(lago da Escócia)

domingo, abril 01, 2007

Click Song


Miriam Makeba ao vivo

UM DOMINGO COM JOSÉ EDUARDO AGUALUSA e MIRIAM MAKEBA


Os rios atônitos

(Ouvindo "Kongo", por Miriam Makeba)

Há palavras a dormir sobre o seu largo
assombro
Por exemplo, se dizes Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios
rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.

Dizes Quanza ou dizes Congo e um rio corre
Lento
em tua boca.

Dizes Quanza
e o ar se preenche de perfumes perplexos.

E dizes Congo
e onde o dizes há grandes aves
e súbitos sons redondos e convexos.

E dizes Quanza, ou dizes Congo
e sempre que o dizes acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro e infinito assombro.

(José Eduardo Agualusa)