(Daumier)
Às vezes, quando acordo, fico a olhar
As paredes do quarto; e extasiado,
Nelas, vejo, confusa, divagar
Uma sombra que vem no sol doirado;
Sol, que através das frinchas, ao passar,
E sendo pelas ervas assaltado,
Perde o sangue, desmaia, e faz lembrar,
Por uma lança, um corpo trespassado!
E a sombra esvoaça, na parede nua,
Onde a cal branca evoca a luz da lua;
Luz que molda em penumbra um mundo ignoto...
E tu, criatura humana, és igualmente
Visível projecção dum transcendente
E invisível espírito remoto...
(Teixeira de Pascoais)
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