sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Rocinante parte a erva do sossego



Sagração


Rocinante
parte a erva do sossego


A Mancha inteira é calma
A chama oculta arde
nesta fremente Espanha interior


De giolhos e olhos visionários
me sagro cavaleiro
andante, amante
de amor cortês a minha dama,
cristal de perfeição entre perfeitas.


Daqui por diante
é girar, girovagar, e combater
o erro, o falso, onda de mil semblantes
e escolher, no peito em sangue,
a grama esquiva e rara
que há-de cingir-me a fronte
por mão de Amor-Amante


A fama, no capim
que rocinante parta,
se guarda para mim, em tudo a sinto,
Sede que bebo, vento que me arrasta.


Glosa de Carlos Drummond de Andrade ( DOM QUIXOTE- Cervantes, Portinari
e Drummond)