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( Henri Martin)
PENSANDO EM VÓS,JUÍZES NOSSOS
Sabereis dizer do nosso tempo
que buscámos, no caos , uma saída?
Que às trevas de uma noite antárctica
lançámos o punhal
brilhante e certeiro do coração?
Que despertávamos antes da aurora,
pensando em vós, juízes nossos,
herdeiros nossos mais tranquilos e certos?
Olhai-nos sem rancor.Vede nos campos
a primavera que tanto amámos.
Essa flor, ou uma igual por essa,
também a prendemos nos cabelos
da única mulher, e em silêncio
lhe contámos as pétalas macias
enquanto o desejo nos inundava.
Entrai desprevenidos
nas oficinas, ouvi o calmo
bater do ferro aceso, olhai
como o douto carpinteiro afaga
o seu pedaço de castanho ( dir-se-ia
pescando no silêncio um delicado
peixe tranquilo, e era o guarda-fato),
correi às ínsuas, lá forceja o povo,
descei à rua, subi vinte degraus
até à sala onde o meu Pai esperava
as grávidas e seus medos velhos:
ah com verdade me dizei, juízes,
se não estamos aí, algures pairando
entre ruídos, entre gente e coisas?
É amigo o sinal, se algum deixámos
para o vosso póstero trabalho.
Sede justos, nada mais pedimos,
sede a balança viva que há no tempo.
Como vós, quizemos a beleza
dentro de cada um.E foi assim
a luta que lutámos: tão suada.
Fernando Assis Pacheco ( Cuidar dos Vivos)