(Miró)
Às vezes basta um ligeiro acaso, um golpe de sorte, um empurrão vindo de algures- e pronto, estamos lançados!»
Aqui, recordou a sua brusca ascenção aos pináculos da fama. Que tinha ele, Augusto, a ver com isso? O que não passara de simples acaso fora aclamado de um dia para o outro como golpe de génio. Bem pequena era a compreensão do público! Bem pequena a compreensão de qualquer um quando o destino estava em jogo! Ser palhaço era ser peão no xadrez do destino. Na pista, a vida não passa de um mudo espectáculo feito de cambalhotas, bofetadas, pontapés- um nunca acabar de fintas e contra-ataques. E era por meio desta vergonhosa rigolade que uma pessoa conquistava os favores do público! O idolatrado palhaço!O bem-amado palhaço cujo privilégio especial consistia em reviver erros, as loucuras, as idiotices, todas as incompreensões que afligem a espécie humana! Ser a própria inépcia era algo que mesmo o mais imbecil dos imbecis poderia entender. Não compreender as coisas, quando tudo é tão claro como a luz do dia; não dar pelo truque, embora repetido milhares de vezes; tatear como um cego, quando todos os sinais indicam a direcção exacta; insistir em franquear a porta errada, apesar do aviso de PERIGO!; avançar para dentro do espelho, em vez de torneá-lo; espreitar pelo extremo errado de uma carabina, uma carabina carregada!nunca as pessoas se cansam destas coisas absurdas, pois há milénios que os seres humanos se enganam no caminho, há milénios que todas as suas buscas e interrogações desaguam num beco sem saída. O mestre da inépcia tem como domínio o tempo inteiro. Só se dá por vencido perante a eternidade...(cont.)
(Henry Miller- O Sorriso aos pés da escada)
Aqui, recordou a sua brusca ascenção aos pináculos da fama. Que tinha ele, Augusto, a ver com isso? O que não passara de simples acaso fora aclamado de um dia para o outro como golpe de génio. Bem pequena era a compreensão do público! Bem pequena a compreensão de qualquer um quando o destino estava em jogo! Ser palhaço era ser peão no xadrez do destino. Na pista, a vida não passa de um mudo espectáculo feito de cambalhotas, bofetadas, pontapés- um nunca acabar de fintas e contra-ataques. E era por meio desta vergonhosa rigolade que uma pessoa conquistava os favores do público! O idolatrado palhaço!O bem-amado palhaço cujo privilégio especial consistia em reviver erros, as loucuras, as idiotices, todas as incompreensões que afligem a espécie humana! Ser a própria inépcia era algo que mesmo o mais imbecil dos imbecis poderia entender. Não compreender as coisas, quando tudo é tão claro como a luz do dia; não dar pelo truque, embora repetido milhares de vezes; tatear como um cego, quando todos os sinais indicam a direcção exacta; insistir em franquear a porta errada, apesar do aviso de PERIGO!; avançar para dentro do espelho, em vez de torneá-lo; espreitar pelo extremo errado de uma carabina, uma carabina carregada!nunca as pessoas se cansam destas coisas absurdas, pois há milénios que os seres humanos se enganam no caminho, há milénios que todas as suas buscas e interrogações desaguam num beco sem saída. O mestre da inépcia tem como domínio o tempo inteiro. Só se dá por vencido perante a eternidade...(cont.)
(Henry Miller- O Sorriso aos pés da escada)
Nunca tinha visto este lado da explicação do èxito dos palhaços:reviver erros, as loucuras, as idiotices, todas as incompreensões que afligem a espécie humana.
ResponderEliminarE o Miller tem razão. Tudo isto faz muito sentido.
Cada post é um conto. Nem sempre será um sorriso, mas, um conto...
ResponderEliminarSe fosse "ser peão era ser palhaço no xadrez do destino" também não me desagradaria...
ResponderEliminarJR