De todas as histórias que escrevi, esta é talvez a mais singular. Foi escrita expressamente para Fernand Léger, a fim de acompanhar uma série de quarenta ilustrações sobre otema dos palhaços e do circo.
Depois de ter aceite o convite de Léger, foram-me precisos alguns meses primeiro que decidisse pegar na caneta. Embora deixado em liberdade absoluta, sentia-me inibido. Jamais escrevera uma história por encomenda- como era o caso desta.
Quase obsessivamente, o meu espírito não parava de andar à volta destes nomes: Rouault, Miró, Chagall, Max Jacob, Seurat. Cheguei a desejar que em vez do texto me tivessem pedido para fazer ilustrações. Outrora pintara umas tantas aguarelas de palhaços entre as quais uma chamada «Cirque Médrano». Pelo menos um desses palhaços parece-se extraordinariamente com Marc Chagall, segundo dizem, muito embora eu nunca tenha encontrado Chagall, ou sequer visto a fotografia dele.
Não sem esforço, tentava começar o trabalho quando me veio caír às mãos um livrinho de Wallace Fowlie que inclui um penetrante ensaio sobre os palhaços de Rouault. Meditando na vida e obra de Rouault, que tão grande influência exerceram em mim, dei-me a pensar no palhaço que sou, que sempre fui. Pensei na paixão que tenho pelo circo, especialmente o cirque intime, e em como toda esta experiência de espectador e participante mudo deve estar profundamente enraizada na minha consciência. Lembrei-me de quando estava a terminar o liceu me terem perguntado o que pensava vir a ser e de eu ter respondido -palhaço!! Recordei velhos amigos que procediam na vida como palhaços-e que eram justamente aqueles que eu mais amava. E depois, para grande surpresa minha, descobri para grande surpresa minha que aos olhos dos amigos mais íntimos eu próprio era um palhaço. (cont.)
(Henry Miller)
Depois de ter aceite o convite de Léger, foram-me precisos alguns meses primeiro que decidisse pegar na caneta. Embora deixado em liberdade absoluta, sentia-me inibido. Jamais escrevera uma história por encomenda- como era o caso desta.
Quase obsessivamente, o meu espírito não parava de andar à volta destes nomes: Rouault, Miró, Chagall, Max Jacob, Seurat. Cheguei a desejar que em vez do texto me tivessem pedido para fazer ilustrações. Outrora pintara umas tantas aguarelas de palhaços entre as quais uma chamada «Cirque Médrano». Pelo menos um desses palhaços parece-se extraordinariamente com Marc Chagall, segundo dizem, muito embora eu nunca tenha encontrado Chagall, ou sequer visto a fotografia dele.
Não sem esforço, tentava começar o trabalho quando me veio caír às mãos um livrinho de Wallace Fowlie que inclui um penetrante ensaio sobre os palhaços de Rouault. Meditando na vida e obra de Rouault, que tão grande influência exerceram em mim, dei-me a pensar no palhaço que sou, que sempre fui. Pensei na paixão que tenho pelo circo, especialmente o cirque intime, e em como toda esta experiência de espectador e participante mudo deve estar profundamente enraizada na minha consciência. Lembrei-me de quando estava a terminar o liceu me terem perguntado o que pensava vir a ser e de eu ter respondido -palhaço!! Recordei velhos amigos que procediam na vida como palhaços-e que eram justamente aqueles que eu mais amava. E depois, para grande surpresa minha, descobri para grande surpresa minha que aos olhos dos amigos mais íntimos eu próprio era um palhaço. (cont.)
(Henry Miller)
Gostei demais desse texto do Henry Miller, há tempos deixei de lê-lo. Matei as saudades!
ResponderEliminarUm abraço meu.
Haverá palavra mais vilipendiada do que "palhaço"?...
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