Muitos anos mais tarde, neste ano em que escrevo esta história, estava num fim do mundo, junto ao rio Guadiana, num sítio tão vazio quanto o deserto, lá em baixo, no Alentejo. Estava a recuperar o fôlego de uma longa caminhada e tinha-me sentado numa pedra a olhar o rio que corria no fundo do desfiladeiro. Creio que estaria como tu estavas naquele dia, o mesmo olhar perplexo perante a vastidão daquele cenário: há alturas em que a beleza é tão devastadora que magoa. Devia haver qualquer coisa na forma como eu olhava aquela paisagem, todo aquele despojamento humano, que fez com que o alentejano que estava comigo, e que tinha sido pastor naqueles vales, comentasse:
- A terra pertence ao dono, mas a paisagem pertence a quem a sabe olhar.
E era assim connosco naqueles dias, também. Éramos donos do que víamos: até onde o olhar alcançava, era tudo nosso. E tínhamos um deserto inteiro para olhar.
(Miguel Sousa Tavares- No teu deserto)
- A terra pertence ao dono, mas a paisagem pertence a quem a sabe olhar.
E era assim connosco naqueles dias, também. Éramos donos do que víamos: até onde o olhar alcançava, era tudo nosso. E tínhamos um deserto inteiro para olhar.
(Miguel Sousa Tavares- No teu deserto)
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