quarta-feira, novembro 12, 2008

Não, Tempo não te gabes de que eu mudo...


Não, Tempo, não te gabes de que eu mudo;
pirâmides com nova força erguidas
nem me são novas, nem estranhas, tudo
são coisas antes vistas, guarnecidas.
Nossas datas são breves e no ensejo
de o velho em nós lançares, nos espantes,
que as fazes mais nascer-nos ao desejo
do que nos lembras que as ouvimos antes,
E, enfrento o teu arquivo, onde não temos
nem surpresa presente nem pregressa;
mentem os teus registos e o que vemos,
que aumenta ou diminui em tua pressa.
Faço voto de ser sempre fiel,
mau grado a foice e a sua mão cruel.

(Os Sonetos de Shakespeare-Vasco Graça Moura)

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