terça-feira, fevereiro 19, 2008

Freud responde a Einstein-II

(Aguarelas de Turner) Delfos
Se nos voltamos para os nossos próprios tempos, chegamos à mesma conclusão a que o senhor chegou por um caminho mais curto. As guerras somente serão evitadas com certeza, se a humanidade se unir para estabelecer uma autoridade central a que será conferido o direito de arbitrar todos os conflitos de interesses. Nisto estão envolvidos dois requisitos distintos: criar uma instância suprema e dotá-la do necessário poder. Uma sem outra seria inútil. A Liga das Nações é destinada a ser uma instância dessa espécie, mas a segunda condição não foi preenchida: a Liga das Nações não possui poder próprio , e só pode adquiri-lo se os membros da nova união , os diferentes estados, se dispuserem a cedê-lo. E, no momento, parecem escassas as perspectivas nesse sentido. (...)Já vimos que uma comunidade se mantém unida por duas coisas: a força coercitiva da violência e os vínculos emocionais (identificações é o nome técnico) entre os seus membros. Se estiver ausente um dos factores, é possível que a comunidade se mantenha unida pelo outro factor. As ideias a que se faz apelo só podem, naturalmente, ter importância se exprimirem afinidades entre os membros, e pode-se perguntar quanta força essas ideias podem exercer. A história ensina-nos que, em certa medida, elas foram eficazes. Por exemplo, a ideia de pan-helenismo, o sentido de ser superior aos bárbaros de além-fronteiras - ideia que foi expressa com tanto vigor no conselho anfictiónico, nos oráculos e nos jogos-, foi forte a ponto de mitigar os costumes guerreiros entre gregos embora, é claro, não suficientemente forte para evitar dissensões bélicas entre diferentes partes da nação grega, ou mesmo impedir uma cidade ou confederação de cidades de se aliar com o inimigo persa, a fim de obter vantagem contra algum rival.A identidade de sentimentos entre os cristãos, embora fosse poderosa, não conseguiu, à época do Renascimento, impedir os Estados Cristãos, tanto os grandes como os pequenos, de buscar o auxílio do sultão em suas guerras de uns contra os outros. (...) Na realidade, é por demais evidente que as ideias nacionais, pelas quais as nações se regem, nos dias de hoje, atuam em sentido oposto.Algumas pessoas tendem a profetizar que não será possível pôr fim à guerra, enquanto a forma comunista de pensar não tenha encontrado aceitação universal. Mas esse objectivo, em todo o caso, está muito remoto, actualmente, e talvez só pudesse ser alcançado após as mais terríveis guerras civis. Assim sendo, presentemente, parece estar condenada ao fracasso a tentativa de substituir a força real pela força das ideias. Estaremos fazendo um cálculo errado se desprezarmos o facto de que a lei, originalmente, era força bruta e que, mesmo hoje, não pode prescindir do apoio da violência.(...)

(S.Freud) (cont.)

1 comentário:

  1. Assim sendo, presentemente, parece estar condenada ao fracasso a tentativa de substituir a força real pela força das ideias.
    Pois é!
    E a Liga das Nações e a Organização das Nações Unidas, nunca conseguem evitar as guerras.

    Obrigado pela resposta ao desafio que deixaste no comentário ao meu post de hoje.

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