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A secreta viagem
No barco sem ninguém ,anónimo e vazio,
ficámos nós os dois ,parados ,de mão dada ...
Como podem só os dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!
Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornamo-nos reais,e de maneira,à proa...
Que figuras de lenda!Olhos vagos,perdidos...
Por entre nossas mâos , o verde mar se escoa...
Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos,sem ver,a longínqua miragem...
Aonde iremos ter?- Com frutos e pecado,
se justifica, enflora, a secreta viagem!
Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa ,passa...alheio aos meus sentidos.
-Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,
a eternidade é nossa ,em madeira esculpidos!
(David Mourão Ferreira)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCreio que este poema está incluído numa das seus primeiras obras (se não na primeira), no tempo em que escrevia para a Seara Nova.
ResponderEliminarNão é dos poetas que mais gosto de ler, mas é um grande poeta.
Um abraço e bom fim de semana.
É bom andar à deriva.... sabendo-se perfeitamente para onde se vai e com quem se vai!
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