segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O homem dos nossos dias vive na cauda do seu eu




Toda grande literatura é percorrida pela ideia de viagem circular. Seja o que for que o homem se decida a descobrir, seja qual for o ponto no tempo e no espaço para onde arremesse o seu corpo fatigado, acaba por voltar a casa, por regressar a si mesmo.Não tenho a menor dúvida de que, dentro de pouco tempo, a viagem à Lua se tornará realidade.Também não tardará muito que se realize a viagem até domínios mais distantes. O tempo, que está a ser enrolado como uma carpete, deixou de ser um factor. No breve lapso de tempo que temos á nossa frente, entre o homem e os seus desejos não haverá provavelmente nenhum intervalo.(...)Se a mente consegue dar o salto, o corpo também o pode fazer. Só temos de aprender como. Só temos de desejar,e assim será. A história do pensamento e das realizações humanos corrobora esta verdade. Actualmente, o homem recusa ou não ousa, acreditar que as coisas possam ser desta maneira. O pensamento, porém, já levantou voo. A Mente que tudo contém, e que é tudo, está a impeli-lo adiante de si mesmo. Neste preciso momento, o homem encontra-se tão infinitamente mais avançado em pensamento do que em ser que é como se estivesse distendido, tal cometa. O homem dos nossos dias vive na cauda do seu eu, semelhante a um desses astros. (...)
Terá ele de fazer a viagem através de todo o firmamento antes de regressar a casa? Talvez. Talvez tenha de repetir o acto simbólico do grande dragão da criação- enrolar-se e contorcer-se, enroscar-se e revirar-se, até por fim conseguir enfiar a cauda na boca.
O verdadeiro círculo do infinito é o círculo fechado, que também é o círculo da plenitude. E este é o objectivo do homem. Só na plenitude ele encontrará a realidade.
Sim, temos de partir a toda a velocidade para casa e onde será esta senão em toda a parte e em sítio nenhum ao mesmo tempo?Quando o homem for senhor da sua alma, então estará plenamente vivo, deixará de se preocopar com a imortalidade e não quererá saber da morte.
Talvez começar de novo signifique tornarmo-nos finalmente vivos!
(Henry Miller -Os Livros da Minha Vida)

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