(Demuth)
A Casa feita de sonho
Leve como uma pluma, alta como uma torre, quente como um ninho, e doce como o mel, assim imaginei desde pequeno a minha casa.
Mais tarde, quando me encontrei só no mundo, como não tinha dinheiro, resolvi construí-la com as próprias mãos.
Fiz primeiro a minha casa de papel, que é um material barato. E assim que ficou pronta, vieram todos os ventos da Terra e levaram a minha casa de papel, leve como uma pluma.
Fiquei sem casa. Mas não desisti. Pensei muito, e fiz então a minha casa à beira-mar, com areia da praia, que é um material barato.
Mal estava pronta, vieram todas as marés do mundo e levaram a minha casa de areia, alta como uma torre.
Deu-me vontade de desistir, mas eu precisava de uma casa, e sobretudo não podia desistir do meu sonho.
E resolvi fazer a minha casa de madeira, que é um material barato. Cortei-a dos bosques com as próprias mãos. Ficou linda! ... Escondida entre a folhagem...
Mas ainda mal a tinha acabado, vieram todos os fogos do Céu e queimaram a minha casa de madeira, quente como um ninho.
Chorei sobre as cinzas , como se chora uma pessoa querida que morreu. Mas mesmo assim, não desisti. Pensei muito, e resolvi fazer a minha casa de açúcar.
- De açúcar? Mas açúcar não é um material barato!
- Pois não... Mas eu precisava de uma casa, e sobretudo não podia desistir do meu sonho, não acham?
Trabalhei, lutei, passei fome, para juntar todo o açúcar necessário. E quando a minha casa estava pronta, - eram de açúcar as paredes, o chão, o tecto, os móveis, as portas e as janelas – vieram todos os bichos da terra, e devoraram a minha casa de açúcar, doce como o mel.
Fiquei sem casa... E desisti de a construir com as próprias mãos.
- E onde mora?
- Onde moro eu? Sei lá!... Vou pelo mundo... Aqui, além, no bosque, à beira mar...
- Então não tem casa?!
- Tenho, sim! Eu podia lá desistir do meu sonho!
Resolvi imaginá-la. Num sítio onde não chega o vento, nem o mar, nem o fogo, nem os bichos da terra.
Fiz a minha casa com o meu próprio sonho. Ficou linda! Leve como uma pluma, alta como uma torre, quente como um ninho, e doce como o mel...
Ricardo Alberty
in
‘Os quatro corações do coração’
colecção Cabra-Cega,
Afrodite, 1968
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Enviado por Amélia Pais
http://barcosflores.blogspot.com/
Turner na liberdade das suas aguarelas dá-nos a emoção do olhar e do sentir em estado puro.Este espaço propõe-se convocar, pela voz dos que sabem, múltiplos instantes de vida: luz e sombra; esquecimento e memória; vida e morte...
"Seja qual fôr o caminho que eu escolher um poeta já passou por ele antes de mim"
S. Freud
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
Leve como uma pluma,alta como uma torre, quente como um ninho...
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
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Uma memória vivida tem sempre um sabor especial! Obrigada pela partilha.
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