terça-feira, fevereiro 10, 2009

Somos também um rio, somos também flutuantes...

(Aguarelas de Turner)

Por outras palavras, o tempo é um problema essencial. Quero com isto dizer que não podemos prescindir do tempo. A nossa consciência passa continuadamente de um estado para outro, e o tempo consiste nessa sucessão. Creio que Henri Bergson afirmou que o tempo era o problema capital da metafísica. Resolvido esse problema, estaria tudo resolvido. Felizmente, estou convencido de que não existe perigo algum de que venha a ser resolvido; ou seja, continuaremos sempre ansiosos. Poderemos sempre dizer, como Stº Agostinho: O que é o tempo? Se mo não perguntam, sei o que é. Se mo perguntam, ignoro-o.
Não sei se ao cabo de vinte ou trinta séculos de meditação teremos avançado muito no problema do tempo. Eu diria que continuamos a sentir a antiga perplexidade, a mesma que sentiu mortalmente Heraclito naquele exemplo a que sempre volto: ninguém se banha duas vezes nas mesmas águas dum rio. Qual a razão para isso? Em primeiro lugar, porque as águas do rio fluem. Em segundo lugar-e isto é uma coisa que nos toca metafísicamente, que provoca em nós como que um princípio de terror sagrado-, porque nós mesmos somos também um rio, somos também flutuantes.

(Jorge Luís Borges-Borges Oral)

2 comentários:

  1. É condição do Homem ter sempre enigmas por resolver.
    Por isso continuará sempre inquieto e ansioso.

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  2. Cá está a insustentável leveza do tempo. Por isso é que Santo Agostinho tanto procurou aquilo que "é", para além do que foi e para além do que será. Somos seres que fluem num tempo que flui. A que nos podemos então agarrar? Uns dizem que é a Deus. Eu acho que o melhor é mesmo fluir enquanto vamos observando as belas margens do rio, o brilho do sol no rio e esperar que a foz esteja o mais longe possível.

    JR

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