segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Hoje sei : escrevo contra aquilo de que me lembro...


Café do Molhe

Perguntavas-me
( ou talvez não tenhas sido
tu, mas só a ti
naquele tempo eu ouvia)

porquê a poesia,
e não outra coisa qualquer:
a filosofia, o futebol, alguma mulher?
Eu não sabia

que a resposta estava
numa certa estrofe de
um certo poema de Frei Luís de Léon que Poe

(acho que era Poe)
conhecia de cor;
em castelhano e tudo,
Porém se o soubesse

de pouco me teria
então servido, ou de nada.
Porque estavas inclinada
de um modo tão perfeito

sobre a mesa
e o meu coração batia
tão infundadamente no teu peito
sob a tua blusa acesa

que tudo o que soubesse não saberia.
Hoje sei: escrevo
contra aquilo de que me lembro,
essa tarde parada, por exemplo.

( Manuel António Pina)

2 comentários:

  1. Temos sempre o prazer de ouvir o que sabemos transmitido pela boca de quem gostamos.

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  2. Por vezes é preferível do que não escrever contra aquilo que nos lembramos.

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