(Manet)
Em vez da consoada há um baile de máscaras
Na filial do Banco erigiu-se um Presépio
Todos estes pastores são jovens tecnocratas
que usarão dominó na próxima década
Chega o rei do petróleo a fingir de Rei Mago
Chega o rei do barulho e conserva-se mudo
enquanto se não sabe ao certo o resultado
dos que vêm sondar a reacção do público
Nas palhas do curral ocultam microfones
O lagedo em redor é de pedras da Lua
Rainhas de beleza hão-de vir de helicóptero
e é provável até que se apresentem nuas
Eis que surge no céu a estrela prometida
Mas é para apontar mais um supermercado
onde se vende pão já transformado em cinza
para que o ritual seja muito mais rápido
Assim a noite passa. E passa tão depressa
que a meia-noite em vós nem se demora um pouco
Só Jesus no entanto é que não comparece
Só Jesus afinal não quer nada convosco.
(David Mourão-Ferreira- Cancioneiro de Natal -1969)
DMF tem dos mais belos poemas de Natal. Este espanta-me pela data - tão actual, doridamente actual!
ResponderEliminarDMF um poeta que "adivinhou" o poema na pantalha do multibanco...
ResponderEliminarExcelente!
ResponderEliminarO Davide, grande poeta, que se deixa tonar pela emoção, mas sempre sem perder a lucidez.
Este é o Natal que nos querem vender!
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