segunda-feira, novembro 26, 2007

Bahia - (quase) 360 graus...

(Aguarelas de Turner) Baía (do meu lado direito)
(Aguarelas de Turner) Baia IV
(Aguarelas de Turner) Baía III
(Aguarelas de Turner) Baía II
(Aguarelas de Turner) Baía (do meu lado esquerdo)

Olhar à distância a Baía( e todas as demais cidades...) é captar-lhe apenas a dimensão, a inserção geográfica na belíssima costa recortada, o maravilhoso Atlântico, a floresta de arranha-céus...Este é, contudo, um olhar bem incompleto, um olhar que não se dá conta dos violentos contrastes que povoam esta cidade e que são impossíveis de não nos acompanharem ao longo desta curta e breve estadia...
Assim, neste salto à Baía nunca deixei de ter presente as precárias condições de vida em que vive a maioria das gentes desta terra. É impossível não ver, é impossível esquecer!

A cidade em progresso

A cidade mudou. Partiu para o futuro
Entre semoventes abstratos
Transpondo na manhã o imarcescível muro
Da manhã na asa dos DC-4s

Comeu colinas, comeu templos, comeu mar
Fez-se empreiteira de pombais
De onde se vêem partir e para onde se vêem voltar
Pombas paraestatais.

Alargou os quadris na gravidez urbana
Teve desejos de cúmulos
Viu se povoarem seus latifúndios em Copacabana
De casa, e logo além, de túmulos.

E sorriu, apesar da arquitetura teuta
Do bélico Ministério
Como quem diz: Eu só sou a hermeneuta
Dos códices do mistério...

E com uma indignação quem sabe prematura
Fez erigir do chão
Os ritmos da superestrutura
De Lúcio, Niemeyer e Leão.

E estendeu ao sol as longas panturrilhas
De entontecente cor
Vendo o vento eriçar a epiderme das ilhas
Filhas do Governador.

Não cresceu? Cresceu muito! Em grandeza e miséria
Em graça e disenteria
Deu franquia especial à doença venérea
E à alta quinquilharia.

Tornou-se grande, sórdida, ó cidade
Do meu amor maior!
Deixa-me amar-te assim, na claridade
Vibrante de calor!


(Vinicius de Moraes- in "Poesia completa e prosa: "Poesias coligidas")

2 comentários:

Não são permitidos comentários anónimos