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Todos os dias eu subia ao último andar do palácio e olhava para o porto. Por vezes via navios, mas nunca o navio que ansiava ver.
Corriam boatos trazidos por outros navios.O Ulisses e os seus homens tinham-se embriagado no primeiro porto de escala e os homens tinham-se amotinado, diziam uns; não, diziam outros, tinham comido uma planta mágica que lhes provocara a perda da memória e o Ulisses salvara-os amarrando-os e carregando-os para os navios. O Ulisses andara a lutar com um gigante dum só olho, o Ciclope,diziam uns; não, isso era o dono de uma taberna que era zarolho, diziam outros, e a luta fora só por falta de pagamento da conta. Alguns dos homens haviam sido devorados por canibais, diziam uns; não, fora só uma briga dum género invulgar, diziam outros, com orelhas arrancadas à dentada e narizes a sangrar e punhaladas e eviscerações. O Ulisses era hóspede duma deusa numa ilha encantada, diziam uns; ela transformara-lhe os marinheiros em porcos-ora a grande novidade, pensava eu-,mas voltara a devolvê-los à primeira forma porque se apaixonara pelo Ulisses e estava a alimentá-lo com manjares de que nunca se ouvira falar...
(Margaret Atwood) A Odisseia de Penélope
as mulheres ficam sempre coladas ao cais.
ResponderEliminartriste sina a de quem espera...