terça-feira, outubro 31, 2006

Redondo como os olhos...

(Cassatt)



Cantico

Mundo à
nossa medida
Redondo como os olhos,
E como eles, também,
A receber de fora
A luz e a sombra, consoante a hora

Mundo apenas pretexto
Doutros mundos.
Base de onde levanta
A inquietação,
Cansada da uniforme rotação
Do dia a dia.
Mundo que a fantasia
Desfigura
A vê-lo cada vez de mais altura.

Mundo do mesmo barro
De que somos feitos.
Carne da nossa carne
Apodrecida.
Mundo que o tempo gasta e arrefece,
Mas o único jardim que se conhece
Onde floresce a vida.

Miguel Torga

2 comentários:

  1. Que bonito poema e que melhor imagem para o complementar! Jinhos

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  2. Não há melhor imagem para consubstanciar a esperança no mundo (apesar de tudo...) que a de uma criança!

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