quarta-feira, junho 10, 2009

livros que não se lêem, cartas que não se escrevem...


Humildade


Tanto que fazer!
livros que não se lêem, cartas que não se escrevem,
línguas que não se aprendem,
amor que não se dá,
tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papéis, papéis, papéis...
até o fim do mundo assinando papéis.

E os pássaros detrás de grades de chuva,
e os mortos em redoma de cânfora.

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca soubemos quem éramos
nem para quê.

(Cecília Meireles- Inéditos)

6 comentários:

  1. Foi magnífico ler este poema da Cecília Meireles ao som do Debussy.

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  2. Cada poema de Cecília é um desdobrar das nossas angústias, das nossas interrogações, dos nossos anseios, dos nossos medos. Revejo-me sempre em cada palavra dela. Da sua poética nem sei falar!
    Um beijo

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  3. Nestes tempos sinto-me assim. Agoniada com a falta de tempo.
    Eu que desde hás uns anos para cá jurei nunca mais atravessar uma Primavera de olhos fechados. Alguém se lembrou de mos vendar nas últimas semanas. Dentro de paredes várias até de noite.


    Ontem e hoje tirei a barriga, dos olhos, de misérias. Estendi-me ao comprido no céu azul do Montemuro. Vi tios e primos e muita gente que não via há muito tempo.
    E agora vou-me "passear" por aqui para "ver" quem não vejo há uns dias.

    Um beijo
    :)

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