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Canto do Aparo
Quando a minha mão, como as crianças,
era de uma estrela rósea as cinco pontas
eu louvava o estreito aparo de pena
que traçava os traços sinuosos da música
própria das esferas e das coisas.
Feito à imagem das aves o aparo
tinha o bico bífido, e os cantos
que a mão com ele soltava inscreviam-se
ao longo das linhas caligráficas.
Do tinteiro bebia o bico a cor
que escrevia o som de cada letra.
Filhos meus não sentiram depois
na sua mão também de astros
o afago deste gesto de pássaros,
mas uma noção nova obsessiva
do gasto e do poupar do Tempo
por um artefacto hábil
que em si entesourou a tinta.
Porém, ao lembrar o lento tempo,
não só relembro o meu aparo sereno,
como aquele que foi de Vânia, o Tio,
no silêncio raspando a sua angústia,
porque todos os contrários são unidos.
(Fiama Hasse Pais Brandão- Cantos do Canto)
Um desafio lá no meu canto. Gostaria que aceitasses.
ResponderEliminarBj.
E como voava alto o aparo da Fiama!
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