segunda-feira, maio 04, 2009

Santillana del Mar-IV- A Colegiata

(Aguarelas de Turner)
(Aguarelas de Turner)
(Aguarelas de Turner)

http://www.santillana-del-mar.com/espanol/colegiata.htm

"Algumas destas modificações são sublimes. à beleza, tal como a concebeu um cérebro humano, uma época, uma forma particular de sociedade, elas juntam a beleza involuntária que lhes vem dos acidentes da História e dos efeitos naturais do tempo. Estátuas tão bem que bradas que de cada fragmento nasce uma obra nova, perfeita pela própria segmentação: um pé descalço inesquecivelmente pousado sobre uma laje, uma mão pura, um joelho dobrado contendo em si toda a velocidade da corrida, um torso que nenhum rosto nos impede de amar, um seio ou um sexo em que reconhecemos melhor que nunca a forma de flor ou fruto, um perfil onde a beleza subsiste numa total ausência de história humana ou divina, um busto de contornos gastos, a meio caminho entre retrato e cabeça de morto.(...)O perito não hesita no entanto: esta linha apagada, esta curva desaparecida aqui e logo reencontrada, não pode vir senão de uma mão humana, (...) que viveu em tal lugar ou tal século. O homem inteiro está aí, a sua colaboração inteligente com o universo e a sua luta contra ele, até à derrota final em que o espírito e matéria que lhe serve de suporte acabam por perecer juntos. A sua intenção firma-se até ao fim na ruína das coisas. (...)

Marguerite Yourcenar- O Tempo esse grande escultor

Não pude deixar de evocar este incontornável texto de Marguerite Yourcenar ao contemplar os efeitos do tempo e dos homens sobre estas esculturas do pórtico central da Colegiata, amputadas, na maior parte dos casos, das suas cabeças. A ausência do rosto faz-nos concentrar toda a nossa atenção nas mãos, nos livros, nas vestes, conseguindo uma nova força, como se a parte ausente nos permitisse novas leituras...

2 comentários:

  1. Santillana é um dos meus lugares,Yourcenar e este livro precisamente outra das minhas referências. Como não te agradecer?

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  2. Continuamos a viajar contigo nesta tão bela Santillana.
    E esse texto da Yourcenar calha aqui mesmo bem.
    De facto, o tempo parece depurar as obras de arte, conduzindo-nos à sua essência.

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