A Criação
(Entardecer em tons de rosa)
No chão jazem os pincéis. Escorre-lhes, por entre as sedas, a tinta rosada. Descansam, após o imperioso labor de matizar o céu, que se despede do dia assim luminoso. Quis o artista dar-lhe o hino da cor, e na busca do tom, achou-se entre o rosa salmão e o ouro translúcido. Misturou-os no secreto anseio de obter a cor perfeita. E conseguiu-o. Ágil no manusear do pincel, preciso no contorno subtil da paisagem, o artista, encheu a tela de sublimidade. Captou a raiz da luz banhada no riso da cor.
Retrocede e olha. Olha o tecto da sua paisagem. Necessita de mais cor na orla do monte, depois um esbater, esfumando-se levemente, como se a alma se dissipasse no correr do espaço.
Montes redondos de anos enchem o perfil, reflectem a vida. Há que os vestir de arvoredo, mas com nitidez, porque a perspectiva desvanece-os. O verde é escuro tal como o suspiro das folhas na penumbra da frescura. Parece-se ouvir o adejar em sussurro. Subtil veste-as de escuro para a noite que se aproxima. O preto seculariza-as para o futuro. O rosa-oiro começa a cobrir-se de névoa, lágrimas do dia que se recolhe.
No vale a vida ainda vibra. A vegetação mexe e remexe-se no ar, na dança do vento. A arte consiste em captar-lhe o tom exacto. A profusão de verdes multiplica-se de acordo com a distância e a idade. A terra-mãe, mulher fecunda de húmus gera-lhes a robustez nos troncos que se abrem em ramos trajados de folhas tenras, brilhantes e frescas de cor. Uma encosta ao canto escura de profusa, ergue-se altaneira no desenho da tela. Campanário de melodias em policromia de copas redondas e abrigadas. Uma clareira mais acima abre o tom e espreita o céu que entardece. Rumoreja a tela. Sente-se adornada como se fora noiva em altar de madrigal.
O artista poisa o pincel mais fino, aquele do retoque, o da arte final e inclinando-se sobre a natureza que defronte dos seus olhos vibra, dá-lhe um longo, dolente e anímico sopro. A patina da vida que carecia.
Mateso http://artmus.blogspot.com/
(Entardecer em tons de rosa)
No chão jazem os pincéis. Escorre-lhes, por entre as sedas, a tinta rosada. Descansam, após o imperioso labor de matizar o céu, que se despede do dia assim luminoso. Quis o artista dar-lhe o hino da cor, e na busca do tom, achou-se entre o rosa salmão e o ouro translúcido. Misturou-os no secreto anseio de obter a cor perfeita. E conseguiu-o. Ágil no manusear do pincel, preciso no contorno subtil da paisagem, o artista, encheu a tela de sublimidade. Captou a raiz da luz banhada no riso da cor.
Retrocede e olha. Olha o tecto da sua paisagem. Necessita de mais cor na orla do monte, depois um esbater, esfumando-se levemente, como se a alma se dissipasse no correr do espaço.
Montes redondos de anos enchem o perfil, reflectem a vida. Há que os vestir de arvoredo, mas com nitidez, porque a perspectiva desvanece-os. O verde é escuro tal como o suspiro das folhas na penumbra da frescura. Parece-se ouvir o adejar em sussurro. Subtil veste-as de escuro para a noite que se aproxima. O preto seculariza-as para o futuro. O rosa-oiro começa a cobrir-se de névoa, lágrimas do dia que se recolhe.
No vale a vida ainda vibra. A vegetação mexe e remexe-se no ar, na dança do vento. A arte consiste em captar-lhe o tom exacto. A profusão de verdes multiplica-se de acordo com a distância e a idade. A terra-mãe, mulher fecunda de húmus gera-lhes a robustez nos troncos que se abrem em ramos trajados de folhas tenras, brilhantes e frescas de cor. Uma encosta ao canto escura de profusa, ergue-se altaneira no desenho da tela. Campanário de melodias em policromia de copas redondas e abrigadas. Uma clareira mais acima abre o tom e espreita o céu que entardece. Rumoreja a tela. Sente-se adornada como se fora noiva em altar de madrigal.
O artista poisa o pincel mais fino, aquele do retoque, o da arte final e inclinando-se sobre a natureza que defronte dos seus olhos vibra, dá-lhe um longo, dolente e anímico sopro. A patina da vida que carecia.
Mateso http://artmus.blogspot.com/
Agradeço,publicamente, a Mateso a sua
ResponderEliminardádiva e a bela pintura de palavras desenhada pelo pincel da sua
escrita.
Um beijo, amiga!
O acto de criar é um traço de união entre o Homem e aquilo que o transcende.
ResponderEliminarE este texto, reflecte, exemplarmente, essa procura, por vezes angustiante, da perfeição, que o artista sempre pretende alcançar, quando cria a sua obra.