(Aguarelas de Turner) entardecer na Ribeira Grande
Carta a André Quental
1º
Mano André? Tu como estás?
Estás bem ou estás mal?
Dize lá como te dás
Com os ares de Portugal?
2º
Na viagem, coitadinho,
Havias de passar enjoado
No fundo do teu beliche
Todo o dia encantoado?
3º
Mas agora já estás bom
Já foste ao teatro, talvez?
Tu deves ir, eu já fui.
Cada um tem a sua vez.
4º
O mundo sempre dá voltas
Que é de um homem pasmar!
Quem diria que a Coimbra
Ainda eu viria parar?
5º
Na terra de Martim de Freitas
Acho-me pois instalado
Mas para estudar, meu amigo,
Tem-me o topete suado.
6º
Fiz outro dia exame
De tradução de Francês.
Faço em Outubro os exames
De latim, história e inglês.
7º
Dize lá que posto tens?
Inda és cabo ou furriel?
Ou já tens posto mais alto:
Alferes, tenente-coronel...
8º
Dize pois o que há de novo,
Anda lá, meu furriel...
' Stá ainda no seu lugar
A ilha de S. Miguel?
9º
Como passa o pai Fernando?
Como vai Luís Vasconcelos?
Está bom? Eh Jacinto,
O pé, e os mais camelos?
10º
Escreve-me pois para saber
Notícias, estou ansioso,
E deste teu mano e amigo
Recebe o coração saudoso.
1856. (Antero de Quental)
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