quinta-feira, setembro 10, 2009

"Completa a tua vida"...


Certa noite, sem conseguir dormir e precisando de se animar um pouco, foi remexer nos livros da biblioteca. Não encontrou nada na sua área que pudesse, mesmo remotamente, aliviar a situação, nada que dissesse como deveria viver uma pessoa, ou encontrar sentido nos dias de vida que lhe restam. Viu então um exemplar bastante manuseado de Assim falou Zaratrustra, de Nietzsche. Conhecia bem aquele livro: décadas antes, tinha-o estudado muito, quando escrevia um livro sobre a grande, mas não conhecida, influência de Nietzsche sobre Freud. Considerava Zaratrustra um livro corajoso que, mais que qualquer outro, ensina como reverenciar e celebrar a vida. Sim, podia ser a resposta. Ansioso demais para ler com método, percorreu as páginas aleatoriamente e leu algumas linhas que estavam sublinhadas. "Mudar 'foi assim' para 'eu quis assim' é o que chamo redenção".
Entendeu que as palavras de Nietzsche significavam que era preciso escolher a sua vida-tinha de a usufruir em vez de ser "usufruido" por ela. Por outras palavras, tinha de amar o seu destino. E, acima de tudo, havia a pergunta que Zaratrustra fazia sempre- se gostaríamos de repetir a mesma vida eternamente. Uma ideia curiosa e, quanto mais Julius pensava nela, mais seguro se sentia: a mensagem de Nietzsche para nós era viver de forma a querer sempre a mesma vida.
Continuou folheando as páginas e deteve-se em dois trechos sublinhados a tinta cor-de-rosa. "Completa a tua vida". "Morre na altura certa". Isso mesmo. Viver o melhor possível e, só então, morre. Não deixes nada por viver. (...)


(Irvin D. Yalon- A Cura de Schopenhauer)

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