Turner na liberdade das suas aguarelas dá-nos a emoção do olhar e do sentir em estado puro.Este espaço propõe-se convocar, pela voz dos que sabem, múltiplos instantes de vida: luz e sombra; esquecimento e memória; vida e morte...
"Seja qual fôr o caminho que eu escolher um poeta já passou por ele antes de mim"
S. Freud
domingo, maio 31, 2009
Mariza - Rosa Branca
quinta-feira, maio 28, 2009
As mãos continuaram fechadas
-Moderato Cantabile-disse a criança.
A senhora marcou esta resposta com uma pancada do lápis no teclado. A criança ficou imóvel, a cabeça voltada para a partitura.
-E o que quer dizer moderato cantabile?
-Não sei.
Uma mulher, sentada a três metros dali, suspirou.
-Tens a certeza de não saber o que quer dizer moderato cantabile?-retomou a senhora.
A criança não respondeu. A senhora deu um grito de sufocada impotência, batendo de novo com o lápis sobre o teclado. A criança não mexeu nem uma pestana. A senhora voltou-se.
-Senhora Desbaresdes, que teimoso que aqui tem-disse ela.
Anne Desbaresdes suspirou novamente.
- A quem o diz- observou ela.
A criança, imóvel, olhos baixos, foi o único a lembrar-se que a noite acabava de romper. Estremeceu.
-Disse-te da última vez, disse-te da penúltima vez, disse-te cem vezes, tens a certeza de não saber?
A criança achou melhor não responder. A senhora reconsiderou novamente o objecto que estava na sua frente. A sua fúria aumentou.
- Vai recomeçar-disse muito baixo Anne Desbaresdes.
O que se passa- continuou a senhora-, o que se passa é que tu não queres dizer.
Anne Desbaresdes reconsiderou também a criança dos pés à cabeça, mas de forma diferente da senhora.
-Vais dizê-lo imediatamente- vociferou a senhora.
A criança não demonstrou qualquer surpresa.
Continuou sem responder. Então a senhora bateu pela terceira vez no teclado, mas com tanta força que o lápis se partiu. Mesmo ao lado das mão da criança. Estas haviam apenas despontado, eram redondas, leitosas ainda. Fechadas sobre si próprias, não se mexeram.
-É uma criança difícil- ousou dize Anne Desbaresdes, não sem uma certa timidez.
A criança virou a cabeça para esta voz, para ela, depressa, o tempo de se assegurar da sua existência, depois retomou a sua pose de objecto diante da partitura. As mãos continuaram fechadas.
-Não quero saber se ele é difícil ou não, Senhora Desbaresdes-disse a senhora. Difícil ou não, senhora Desbaresdes-disse a senhora- Difícil ou não , ele tem de obedecer.
(Marguerite Duras -Moderato Cantabile)
Na poesia procuro...
Na poesia procuro uma casa onde o eco
existe sem o grito que todavia gera
(Gastão Cruz-Rua de Portugal)
quarta-feira, maio 27, 2009
Cavalo, alta rainha, rei postreiro, oblíquo bispo...
Deslocam os peões. O tabuleiro
Tem-nos até à alva no altaneiro
Âmbito em que se odeiam duas cores.
Dentro irradiam mágicos rigores
As formas: torre homérica, ligeiro
Cavalo, alta rainha, rei postreiro,
Oblíquo bispo e peões agressores.
Quando os jogadores se houverem ido,
Quando o tempo os tiver já consumido,
Nem por isso terá cessado o rito.
A leste se ateou uma tal guerra
Que hoje se propaga a toda a terra.
Como o outro, este jogo é infinito.
(Jorge Luis Borges- Poemas escolhidos)
segunda-feira, maio 25, 2009
J' aimerai toujours le temps des cerises
Le temps des cerises (poème avant d'être chanson)
à la vaillante citoyenne Louise, l'ambulancière de la rue Fontaine-au-Roi, le dimanche 28 mai 1871
Quand nous en serons au temps des cerises*,
Et gai rossignol et merle moqueur
Seront tous en fête.
Les belles auront la folie en tête
Et les amoureux du soleil au coeur.
Quand nous en serons au temps des cerises,
Sifflera bien mieux le merle moqueur.
Mais il est bien court le temps des cerises,
Où l’on s’en va deux cueillir en rêvant
Des pendants d’oreille,
Cerises d’amour aux robes pareilles
Tombant sur la feuille en gouttes de sang.
Mais il est bien court le temps des cerises,
Pendants de corail qu’on cueille en rêvant.
Quand nous en serons au temps des cerises,
Si vous avez peur des chagrins d’amour
Evitez les belles.
Moi qui ne crains pas les peines cruelles,
Je ne vivrais pas sans souffrir un jour.
Quand nous en serons au temps des cerises,
Vous aurez aussi des chagrins d’amour.
J’aimerai toujours le temps des cerises :
C’est de ce temps là que je garde au coeur
Une plaies ouverte,
Et dame Fortune, en m’étant offerte,
Ne pourra jamais fermer ma douleur.
J’aimerai toujours le temps des cerises
Et le souvenir que je garde au coeur.
Jean-Baptiste Clément (1866)
*Modification du premier vers lors de la mise en musique : "Quand nous chanterons le temps des cerises".
Ponctuation du poème original respectée.
Source : "Les poètes de La Commune" - Maurice Choury - Seghers - édition 1970, Centenaire de La Commune .
http://fr.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Cl%C3%A9ment
domingo, maio 24, 2009
Em Santiago, o fim da viagem
Santiago de Compostela foi o terminus deste variado e rico passeio. Ficou, assim, algo desfocada pelo desejo de desfazer as malas e retomar o trabalho. Voltarei cá, certamente, desta vez, quem sabe, começando por aqui a "peregrinação".
Aqui, também já tenho saudades de regressar ao estilo "antigo", com quem regressa a casa.
sábado, maio 23, 2009
Olhando a Catedral de Santiago de Compostela
Quando visito uma Igreja ou Catedral gosto de sentir simplicidade e despojamento. Os construtores antigos e actuais que conseguem materializar esse despojamento estão mais próximos ( na minha concepção ) da necessidade que os humanos têm de se encontrar consigo mesmos nesse silêncio e na ausência de adornos. É por isso que me senti, aqui, mais perto dos construtores românicos.
sexta-feira, maio 22, 2009
Um pouco de Santiago na despedida
quinta-feira, maio 21, 2009
Praça Maria Pita -Coruña
quarta-feira, maio 20, 2009
Bom-dia Coruña!
"Não precisa de falar Espanhol nós falamos a mesma língua", dizia-me um motorista de táxi.E naquela altura o castelhano representava um governo central que não trata de igual modo todas as suas comunidades, o que é bem visível logo que saímos das Astúrias e franqueamos a província da Coruña.
segunda-feira, maio 18, 2009
Despedida das Astúrias- Praia de Vidiago
Vidiago, uma pequena aldeia com pouco mais de cem habitantes, acolheu-me neste meu deambular pelas Astúrias. Mas chega sempre a vez de dizer adeus. Nada melhor para a despedida que percorrer um troço da rota costeira na descoberta da pequena praia de pedra rolada ali bem perto.Chegar ali ao fim do dia e captar as tonalidades azuis e rosas daquele recanto deu-me um verdadeiro prazer.
Um saltinho a Candás
domingo, maio 17, 2009
Aberto desde 1899!
sábado, maio 16, 2009
"Pinceladas" de Gijón
quarta-feira, maio 13, 2009
Cai Guo Quiang no Guggenheim
E tudo isto vem a propósito de quê?
Quem se lembra do autor do projecto desse fogo de artifício? Eu não o sabia com toda a certeza.Foi-me preciso visitar o Guggenheim em Bilbao para descobrir o Homem que traçou nos ares aquelas pegadas gigantes, que floriu por instantes o céu de Pequim e de todo o mundo. Ele chama-se Cai Guo Quiang http://www.caiguoqiang.com o homem que pinta com pólvora e fogo e constrói diferentes tipos de instalações que procuram interrogar-nos relativamente aos problemas que inquietam o mundo. A exposição que se encontra aberta até 28 de Maio deixa-nos, desde logo a pensar: "I want to bielive". À entrada do átrio central do museu deparamo-nos com carros brancos suspensos, colocados em diferentes ângulos como que atravessados por projécteis luminosos, numa clara alusão ao atentado de 11 de Setembro. O impacto sobre o visitante é imenso, constituindo-se esta instalação como subversão, tornando-se assim capaz de nos comunicar um tremendo estado de inquietação interior, misturando dor e beleza.
Partindo do átrio somos convidados a percorrer diferentes salas onde se encontram paineis gigantes de "pinturas" com pólvora.A violência dos tempos actuais está sempre implícita, não só por via do material utilizado como das próprias representações, conseguindo o autor, de um modo quase mágico, comunicar-nos uma espiritualidade.
A obra que mais me tocou foi esta imensa alcateia de lobos, feita numa escala quase real,que esbarra violentamente contra uma parede em vidro. O autor nesta obra refere-se ao "muro de Berlim" e ao imenso sentimento de impotência daqueles que contra ele esbarraram. Mesmo um grupo organizado e pleno de raiva - a alcateia de lobos-não tem força para o derrubar e só lhe resta bater em retirada. Cai Guo Quian terá ele mesmo vivido na pele este sentimento na China popular em que nasceu e foi criado.
Asseguro-lhes que vale a pena conhecer estes trabalhos, senti-los e ficar a pensar... Saí mais "rica" naquele dia.
"Aguarelando" há 4 ANOS!
terça-feira, maio 12, 2009
O Guggenheim em Bilbao
(Aguarelas de Turner)
segunda-feira, maio 11, 2009
Oviedo na despedida
Uma vez mais, deixo um lugar a contragosto. Oviedo merece bem um estar calmo e pachorrento. É daquelas cidades que sabem receber, que se abrem plenas de recantos a quem gosta de olhar, saborear e descobrir.
domingo, maio 10, 2009
ASTURIAS- Andrès Segovia
sábado, maio 09, 2009
Pelas ruas de Oviedo- entre o sol e a sombra
sexta-feira, maio 08, 2009
O Regresso de Williams B. Arrensberg
http://www.biografiasyvidas.com/biografia/u/urculo.htm
Oviedo está, de facto, repleta de esculturas. Elas estão ali para nos interrogar, para abalar e abanar a rotina, para nos levar a querer saber mais, a não nos conformarmos com a nossa ignorância, a vivermos de uma forma sensível. Gostei tanto delas, que imaginei a "minha" Lisboa seguindo este belo exemplo...
Olhemos este viajante enigmático, Williams Arrensberg e busquemos nele um pouco de cada um de nós.