A BAO A QU
Para contemplar a paisagem mais maravilhosa do mundo, é preciso chegar ao último piso da Torre Vitória, em Chitor. Existe aí um terraço circular que permite dominar todo o horizonte. Uma escada de caracol conduz ao terraço , mas só se atrevem a subir os que não acreditam na fábula, que diz assim:
Na escada da Torre da Vitória, vive desde o princípio do tempo o A Bao A Qu, sensível aos valores das almas humans. Vive em estado letárgico, no primeiro degrau, e apenas goza de vida consciente quando alguém sobe a escada. A vibração da pessoa que se aproxima infunde-lhe vida e uma luz interior insinua-se nele. Ao mesmo tempo, o seu corpo e a sua pele quase translúcida começam a mover-se. Quando alguém sobe a escada, o A Bao A Qu coloca-se quase nos calcanhares do visitante e sobe agarrado na borda dos degraus curvos e gastos pelos pés de gerações de peregrinos. Em cada degrau intensifica-se a cor, a sua forma aperfeiçoa-se e a luz que irradia é cada vez mais brilhante. Um testemunho da sua sensibilidade é o facto de que só obt~em a sua forma perfeita no último degrau, quando o que sobe é um ser evoluído espiritualmente. Se assim não for, o A Bao A Qu fica paralisado antes de chegar, o seu corpo incompleto, a sua cor indefinida e a luz vacilante. O A Bao A Qu sofre quando não consegue formar totalmente e a sua queixa é um rumor apenas perceptível, semelhante ao roçar da seda. Mas quando o homem ou a mulher que o revivem estão cheios de pureza, o A Bao A Qu pode chegar ao último degrau já completamente formado e irradiando uma viva luz azul. O seu regresso à vida é muito breve, pois ao descer o peregrino, o A Bao A Qu roda e cai até ao degrau inicial, onde já apagado e semelhante a uma lâmina de contornos vagos espera pelo próximo visitante. Só é possível vê-lo bem quando chega a meio da escada, onde o prolongamento do seu corpo, que uma espécie de bracinhos ajudam a subir, se definem com clareza. Há quem diga que olha com todo o corpo e que o tacto recorda a pele do pêssego, No decorrer dos séculos, o A Bao A Qu chegou uma só vez à perfeição.
O capitão Burton regista a lenda do A Bao A Qu numa das notas da sua versão d'As Mil e Uma Noites.
(Jorge Luis Borges e Margarita Guerrero - O Livro dos Seres Imaginários. 1967)
Na escada da Torre da Vitória, vive desde o princípio do tempo o A Bao A Qu, sensível aos valores das almas humans. Vive em estado letárgico, no primeiro degrau, e apenas goza de vida consciente quando alguém sobe a escada. A vibração da pessoa que se aproxima infunde-lhe vida e uma luz interior insinua-se nele. Ao mesmo tempo, o seu corpo e a sua pele quase translúcida começam a mover-se. Quando alguém sobe a escada, o A Bao A Qu coloca-se quase nos calcanhares do visitante e sobe agarrado na borda dos degraus curvos e gastos pelos pés de gerações de peregrinos. Em cada degrau intensifica-se a cor, a sua forma aperfeiçoa-se e a luz que irradia é cada vez mais brilhante. Um testemunho da sua sensibilidade é o facto de que só obt~em a sua forma perfeita no último degrau, quando o que sobe é um ser evoluído espiritualmente. Se assim não for, o A Bao A Qu fica paralisado antes de chegar, o seu corpo incompleto, a sua cor indefinida e a luz vacilante. O A Bao A Qu sofre quando não consegue formar totalmente e a sua queixa é um rumor apenas perceptível, semelhante ao roçar da seda. Mas quando o homem ou a mulher que o revivem estão cheios de pureza, o A Bao A Qu pode chegar ao último degrau já completamente formado e irradiando uma viva luz azul. O seu regresso à vida é muito breve, pois ao descer o peregrino, o A Bao A Qu roda e cai até ao degrau inicial, onde já apagado e semelhante a uma lâmina de contornos vagos espera pelo próximo visitante. Só é possível vê-lo bem quando chega a meio da escada, onde o prolongamento do seu corpo, que uma espécie de bracinhos ajudam a subir, se definem com clareza. Há quem diga que olha com todo o corpo e que o tacto recorda a pele do pêssego, No decorrer dos séculos, o A Bao A Qu chegou uma só vez à perfeição.
O capitão Burton regista a lenda do A Bao A Qu numa das notas da sua versão d'As Mil e Uma Noites.
(Jorge Luis Borges e Margarita Guerrero - O Livro dos Seres Imaginários. 1967)
Percorri e senti.
ResponderEliminarBela a lenda e a descrição.
ResponderEliminarÀparte o texto, que é uma matravilha, fico sempre maravilhado com o tipo de gravuras que o acompanham.
ResponderEliminarBela lenda. Onde o hoeme necessita sempre de elã para ir mais alto, mais longe, mais e mais...
ResponderEliminarBeijinho.