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Sem direcção, sem caminho
escrevo esta página que não tem alma dentro.
Se conseguir chegar à substância de um muro
acenderei a lâmpada de pedra na montanha.
E sem apoio penetro nos interstícios fugidios
ou enuncio as simples reiterações da terra,
as palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos.
Tentarei construir a consistência num adágio
de sílabas silvestres, de ribeiros vibrantes.
E na substância entra a mão, o balbucio branco
de uma língua espessa, a madeira, as abelhas,
um organismo verde aberto sobre o mar,
as teclas do verão, as indústrias da água.
Eu sou agora o que a linguagem mostra
nas suas verdes estratégias, nas suas pontes
de música visual: o equilíbrio preenche os buracos
com arcos, colinas e com árvores.
Um alvor nasceu nas palavras e nos montes.
O impronunciável é o horizonte do que é dito
António Ramos Rosa
Sou apaixonada por ARR! E esse verso: "O impronunciável é o horizonte do que é dito." é indizível de soberbo.
ResponderEliminarUm beijoo do meu lado do mar, onde é outono.
Os franceses, muito apreciadores de poetas portugueses, como Miguel Torga ou Fernando Pessoa, que muito me admira a mim que os portugueses conheçam tão bem estes poetas como os próprios franceses, devem achar alguma semelhança entre a poesia de António Ramos Rosa e a de Fernando Pessoa, pois alcunharam António Ramos Rosa de uma "continuidade" de Fernando Pessoa.
ResponderEliminarTambém eu admiro a personalidade de António Ramos Rosa, sobretudo por confessar que nunca foi uma pessoa "submissa", para além da sua poesia.