Corro, só isso. Corro no vazio. Dito de outro modo: corro para atingir o vazio. No entanto, há sempre um pensamento ou outro que acaba por se introduzir nesse vazio. O espírito humano não pode ser um vazio completo. As emoções dos homens não se revelam suficientemente fortes ou consistentes, ao ponto de albergarem o vazio. Quero com isto dizer que os pensamentos e ideias que invadem o meu espírito enquanto corro permanecem subordinados a esse espaço oco. Na medida em que lhe falta conteúdo, mais não são do que pensamentos ao correr da pena que têm como eixo a natureza do próprio vazio.
As coisas que me vêm à cabeça enquanto corro são como nuvens no céu. Nuvens nas diferentes formas e de diferentes tamanhos, que vão e vêm enquanto o céu permanece o mesmo de sempre. As nuvens não passam de convidados. Aproximam-se a passo, para depois se afastarem e desaparecerem no horizonte. Fica apenas o céu. Existe, ao mesmo tempo que não existe, o céu. Tem substância e ao mesmo tempo não tem. E nós limitamo-nos a aceitar a existência desse recipiente incomensurável tal como é e deixamo-nos envolver por ele.
(Haruki Murakami- Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo)
(Haruki Murakami- Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo)
O vazio tem honras no Natal...
ResponderEliminarQuerida Addiragram
ResponderEliminarTenho andado muito ausente dos blogues, por falta de tempo - do físico e do psicologico - mas hoje tinha que vir aqui, deixar um beijo e desejar um excelente 2010, com a mesma ternura que encontrei n 'alualutua.
:)
Um vazio cheio.
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