terça-feira, junho 10, 2008

Com o tempo...

(Alma-Tadema)

Com o Tempo o Prado Seco Reverdece

Com o tempo o prado seco reverdece,
Com o tempo cai a folha ao bosque umbroso,
Com o tempo para o rio caudaloso,
Com o tempo o campo pobre se enriquece,

Com o tempo um louro morre, outro floresce,
Com o tempo um é sereno, outro invernoso,
Com o tempo foge o mal duro e penoso,
Com o tempo torna o bem já quando esquece,

Com o tempo faz mudança a sorte avara,
Com o tempo se aniquila um grande estado,
Com o tempo torna a ser mais eminente.

Com o tempo tudo anda, e tudo pára,
Mas só aquele tempo que é passado
Com o tempo se não faz tempo presente.

(atribuído a Luís Vaz de Camões)

Nota: Extracto da carta da amiga e esclarecida Amélia Pais que partilho com todos:

Amiga: este é um dos muitíssimos sonetos muitas vezes atribuído a Camões, mas de autoria que se considera muito duvidosa.O problema está em que a 1ªedição das Rimas é póstuma a Camões (1595)e, como teve enorme êxito de imediato, editores sucessivos iam acrescentando mais sonetos e redondilhas, porque era êxito assegurado em Portugal e Espanha, sobretudo...Assim, ainda não há certezas sobre grande parte dos sonetos ditos de Camões - e a edição, por enquanto, considerada mais fidedigna é a de Costa Pimpão - da Almedina. Aguiar e Silva anda a tentar estabelecer em definitivo o cânone da lírica camoniana- mas é tarefa que vai levar bastante tempo.Este soneto é, pois, ainda de autoria duvidosa - eu considero-o nos escritos atribuídos a Camões...na pasta que tenho ligada a Camões.
Obs.: Na edição da Imprensa nacional está incluído com a seguinte nota:publicado por Juromenha. Figura no Cancioneiro de Fernandes Tomás como sendo da autoria de Baltazar Estaço.Foi editado entre as poesias deste autor em 1604, motivo que levou Carolina Michaelis a rejeitar a introdução no corpus camoniano. Nenhum dos editores modernos o inclui.Tema e forma levam a inseri-lo entre os lugares comuns da época.Nada no poema permite atribui-lo a Camões, e em nota: Juromenha publica, em nota, um soneto espanhol de tema e estrutura idênticos, que encontrou num manuscrito do século XVII, e que tem como incipit «Con tiempo passa el año,mes y horas»
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