segunda-feira, maio 05, 2008

Querer é tornar-se aquilo que essencialmente se é...

(Aguarelas de Turner)
As pessoas parecem assombradas e fascinadas quando falo do efeito que esta visita à Grécia produziu em mim. Dizem que me invejam e desejam poder, um dia, ir lá elas mesmas. Porque não vão? Porque ninguém pode saborear a experiência que deseja enquanto não estiver preparado para ela. As pessoas raramente querem dizer o que dizem. Qualquer pessoa que diz estar ansiosa por fazer alguma coisa que não seja o que está a fazer, ou estar em qualquer outro lugar, está a mentir a si mesma. Querer não é meramente desejar. Querer é tornar-se aquilo que essencialmente se é. Alguns homens, quando lerem isto, dar-se-ão inevitavelmente conta de que não há nada a fazer além de pôr em prática o que desejam. Uma frase de Maeterlinck a respeito da verdade e da acção modificou toda a minha concepção da vida. Levei quarenta e cinco anos para acordar para o significado da sua frase. Outros homens coordenam mais facilmente visão e acção. Mas o que importa é que na Grécia consegui finalmente essa coordenação. Desinflei, fui restituído às proporções humanas apropriadas, preparado para aceitar a minha sorte e dar tudo quanto recebi. Parado no túmulo de Agamémnon, passei por um verdadeiro renascimento. Não me interessa minimamente o que as pessoas pensam ou dizem quando lerem semelhante declaração. Não tenho desejo de converter alguém ao meu modo de penar. Agora sei que qualquer influência que possa exercer sobre o mundo será o resultado do exemplo que eu der, e não devida às minhas palavras. Faço este relato da minha viagem não como um contributo para o saber humano, porque o meu saber é pequeno e pouco importante, mas sim como um contributo para a experiência humana. Há sem dúvida alguma erros de uma natureza ou outra neste relato, mas a verdade é que me aconteceu alguma coisa e eu transmiti o mais verdadeiramente que soube.(cont.)

(Henry Miller- O Colosso de Maroussi)

Foi com prazer que vos conduzi por muitos dos lugares que visitei em Creta. O "guião" foi a minha inseparável máquina fotográfica digital que me permite disparar, sem parcimónia, ao sabor do que vou gostando de ver. Desejei ainda transmitir-vos o meu sentir do que Creta me foi dando . Durante todo este tempo perguntei-me o que me levava a querer levar a "viagem" até ao fim (?) Vieram-me à lembrança as leituras que o meu pai nos fazia,todas as noites, da "Volta ao Mundo " de Ferreira de Castro...Viajamos também para poder partilhar. Agora, também sabe bem voltar ao estilo antigo do Blog, como quem regressa a casa ...

4 comentários:

  1. E foi muito bom poder acompanhar-te nesta viagem!
    Beijo

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  2. Gostei muito da reportagem.
    Visitei Creta há cerca de dez anos. Deixou-me uma impressão fortíssima, que renovei agora. Obrigado.

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  3. foi de facto um "prazer de ver".
    Obrigada.

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  4. Bem Hajas porseres guia em viagem virtual quase tornada real. Gostei e acompanhei, talvez por vezes atrasada, mas estive sempre lá . Obrigada.
    Beijo.

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