O nascimento da palavra provoca a derrota das coisas. Vitoriosas numa primeira fase, elas impõem-se na nossa memória, mas desde que nos tornamos capazes de fabricar símbolos, de colocar ali um objecto que representa outro, o nosso mundo íntimo pode colocar pensamentos no lugar de coisas.
Para ilustrar até que ponto habitamos este novo mundo, atribuí muitas vezes a seguinte fábula a Charles Péguy. A caminho de Chartres, Péguy vê à beira da estrada um homem a partir pedras com um grande malho. Tem a infelicidade estampada no rosto e a raiva nos gestos. Péguy pára e pergunta:« O que está a fazer, senhor?»Não está a ver-responde o homem- que só consegui este trabalho estúpido e doloroso.»Um pouco mais longe, Péguy vê outro homem também a partir pedras, mas o seu rosto é calmo e os gestos são harmoniosos. «O que está a fazer, senhor?pergunta-lhe Péguy. «Ora bem, ganho a vida graças a este trabalho cansativo mas tem a vantagem de ser ao ar livre», responde-lhe. Mais longe ainda, um terceiro pedreiro irradia alegria. Sorri ao bater com o malho e observa com prazer os bocados de pedra. «O que está a fazer?» pergunta- lhe Péguy. «Eu- responde o homem- estou a construir uma catedral!»
A pedra desprovida de sentido submete o infeliz à realidade, ao imediato que não dá nada a entender senão o peso do malho e o sofrimento do golpe. Enquanto aquele que tem uma catedral na cabeça transfigura a pedra e experimenta o sentimento de elevação e de beleza que provoca a imagem da catedral que já se orgulha. Mas oculta-se um mistério no mundo íntimo dos pedreiros: porque razões alguns têm uma catedral na cabeça enquanto outros apenas vêem pedras?
Sem memória e sem esperança viveríamos num mundo sem razão. Para suportarmos a prisão do presente, preencheríamos então este mundo de prazeres imediatos. Esta adaptação comportamental dar-nos-ia prazeres fáceis, mas os divertimentos instantâneos conduzem à acrimónia pois o prazer constante não é possível Qualquer sabor que se prolongue provoca indiferença, depois a aversão e até mesmo o sofrimento. Esperar da vida apenas prazeres imediatos conduz à amargura e à agressividade face à primeira frustração. Uma vida dedicada ao prazer leva-nos ao desespero tanto como uma vida sem prazer.
(Boris Cyrlunik- O Amor que cura-Ésquilo edições)
Para ilustrar até que ponto habitamos este novo mundo, atribuí muitas vezes a seguinte fábula a Charles Péguy. A caminho de Chartres, Péguy vê à beira da estrada um homem a partir pedras com um grande malho. Tem a infelicidade estampada no rosto e a raiva nos gestos. Péguy pára e pergunta:« O que está a fazer, senhor?»Não está a ver-responde o homem- que só consegui este trabalho estúpido e doloroso.»Um pouco mais longe, Péguy vê outro homem também a partir pedras, mas o seu rosto é calmo e os gestos são harmoniosos. «O que está a fazer, senhor?pergunta-lhe Péguy. «Ora bem, ganho a vida graças a este trabalho cansativo mas tem a vantagem de ser ao ar livre», responde-lhe. Mais longe ainda, um terceiro pedreiro irradia alegria. Sorri ao bater com o malho e observa com prazer os bocados de pedra. «O que está a fazer?» pergunta- lhe Péguy. «Eu- responde o homem- estou a construir uma catedral!»
A pedra desprovida de sentido submete o infeliz à realidade, ao imediato que não dá nada a entender senão o peso do malho e o sofrimento do golpe. Enquanto aquele que tem uma catedral na cabeça transfigura a pedra e experimenta o sentimento de elevação e de beleza que provoca a imagem da catedral que já se orgulha. Mas oculta-se um mistério no mundo íntimo dos pedreiros: porque razões alguns têm uma catedral na cabeça enquanto outros apenas vêem pedras?
Sem memória e sem esperança viveríamos num mundo sem razão. Para suportarmos a prisão do presente, preencheríamos então este mundo de prazeres imediatos. Esta adaptação comportamental dar-nos-ia prazeres fáceis, mas os divertimentos instantâneos conduzem à acrimónia pois o prazer constante não é possível Qualquer sabor que se prolongue provoca indiferença, depois a aversão e até mesmo o sofrimento. Esperar da vida apenas prazeres imediatos conduz à amargura e à agressividade face à primeira frustração. Uma vida dedicada ao prazer leva-nos ao desespero tanto como uma vida sem prazer.
(Boris Cyrlunik- O Amor que cura-Ésquilo edições)