quarta-feira, maio 07, 2008

Longe, Perto: o Horizonte


A linha do horizonte situa-se no ponto indefinido onde o céu e a terra se unem. É indefinido porque recua à medida que avançamos. A linha do horizonte só é fixa e acessível à distância.

Na verdade, nunca temos o que queremos. Nem teremos. É o não-ter ou o não-ter-ainda que alimenta o desejo. É o vazio que sustenta a avidez. O já-ter extingue o desejo. A vivência do ainda-não-ter ensina-nos a esperar, a ter esperança, categoria mental em que o tempo é simultâneamente castigo e recompensa. Não-ter coloca-nos num estado de tensão que nos desestabiliza e nos obriga a dirigir para o exterior de nós mesmos, a partir à aventura sem objecto ou com objectos provisórios e frustrantes, nada pacificadores do desejo inicial que assim muda de direcção em pleno movimento. Isto, quer se dirija ao pão, à mulher ou ao poder.

É assim que nenhum desejo permanece igual a si próprio, nem se pode considerar definitivo: tem um carácter errático, inconstante e múltiplo.

Fernando Gandra- O Sossego como problema (peregrinatio ad loca utopica). Fenda, Edições.

2 comentários:

  1. Belíssima explicação da linha do horizonte, ponto de referência que não dispensamos, mas que às vezes (sobretudo no mar) não se distingue. Beijinhos!

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  2. O horizonte está onde estão os nossos olhos.

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