Foi mais tarde, depois de ter regressado a Corfu e tomado bem o gosto à solidão que apreciei ainda mais o monólogo « katsimbalista».(*) Deitado nu, ao sol, numa saliência rochosa junto ao mar, fechava com frequência os olhos e tentava tecer de novo o padrão das suas conversas. Foi então que fiz a descoberta de que o seu falar criava reverberações, que o eco demorava muito tempo a chegar aos nossos ouvidos. Comecei a compará-lo ao falar francês em que estivera envolvido tanto tempo. Este assemelhava-se mais ao jogo de luz sobre um vaso de alabastro, em algo reflexivo, lépido, dançante, líquido, evanescente, ao passo que o outro, a linguagem katsimbalista, era opaco, nublado, prenhe de ressonâncias que só podiam ser compreendidas muito depois, quando as reverberações anunciavam a colisão com pensamentos, pessoas, objectos localizados em distantes partes da Terra. O francês ergue muros à volta do seu falar, como o faz à volta do seu jardim: põe limites em tudo, a fim de se sentir em casa. No fundo falta-lhe confiança no seu semelhante, é céptico porque não acredita na bondade inata dos seres humanos. Tornou-se realista porque isso é seguro e prático. O grego, por outro lado, é aventureiro: é ousado e adaptável, faz amigos com facilidade. Os muros que vemos na Grécia, quando não são de origem turca ou veneziana, remontam à idade ciclópica. Eu diria, por experiência própria, que não existe homem mais franco, acessível e fácil de lidar do que o grego. Torna-se imediatamente um amigo: vem ao nosso encontro. (...)
(Henry Miller-O Colosso de Maroussi)
(*)-referência a Katsimbalis, amigo grego que fascinou Henry Miller
(Henry Miller-O Colosso de Maroussi)
(*)-referência a Katsimbalis, amigo grego que fascinou Henry Miller
Não conhecia esta obra do Miller.
ResponderEliminarProsa densa e saborosa.