(Corot)
Eu nunca teria ido para a Grécia se não fosse uma rapariga chamada Betty Ryan que morava na mesma casa que eu em Paris. Uma noite,enquanto tomávamos um copo de vinho, ela começou a falar das suas experiências de viajar pelo mundo. Escutei-a sempre com grande atenção, não apenas porque as suas experiências eram estranhas, mas também porque quando falava das suas andanças ela parecia pintá-las: tudo quanto descrevia ficava na minha cabeça como telas acabadas de um mestre. Foi uma conversa peculiar a dessa noite: começámos por conversar a respeito da China e da língua chinesa, cujo estudo ela iniciara. Em breve estávamos no Norte África, no deserto, entre povos que nunca ouvira falar antes. E, subitamente, ela caminhava sozinha ao lado de um rio, a luz era intensa e eu seguia-a o melhor que podia sob o sol ofuscante, mas ela perdeu-se e dei comigo a vaguear numa terra estranha, ouvindo uma língua que nunca tinha escutado. Esta rapariga não é exactamente uma narradora de histórias, mas é uma artista de qualquer espécie, porque ninguém jamais me transmitira tão completamente a atmosfera de um lugar como ela me transmitiu a da Grécia. Muito depois, descobri que tinha sido perto de Olímpia que ela se perdera, e eu com ela, mas na altura tratava-se apenas da Grécia para mim, um mundo de luz como nunca sonhara nem esperara ver. (cont.)
(Henry Miller- O Colosso de Maroussi)
(Henry Miller- O Colosso de Maroussi)
Gostei de reler aqui Henry Miller.
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