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A UM CONSTRUTOR DE BARCOS QUE FOI MEU PAI
Os punhos que ergueste contra
um tempo de promessas
e a tua voz que não passou além
do cume dos nossos montes adormecidos,
MEU PAI: os barcos que fizeste
eram pequenos de mais para viajar
o teu sonho
a tua raiva
o teu cansaço
tu fabricante de viagens
amordaçadas
arquitecto de ilhas
naufragadas
MEU PAI: sei bem do tempo
em que os caranguejos roíam as raízes
da tua ilha - apodrecendo
e os barcos murchavam
na baía
(recordo que a viola perdeu
a voz num prego da parede.)
E daí
o teu barco de tédio e cansaço
único a não esbarrar
contra os muros das ilhas vizinhas.
Urbano Bettencourt http://www.iac-azores.org/livraria/textos/urbano.html
in 14 Poetas de Aqui e de Agora, Angra do Heroísmo
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