terça-feira, março 22, 2011

A Poesia...

   (Barceló)
A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia 
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade
A poesia adora andar descalça nas areias do verão.


(Eugénio de Andrade- O Sal da Língua)

4 comentários:

  1. Sempre ele nesta cantata de palavras únicas e num ritmo muito próprio. Um beijo.

    ResponderEliminar
  2. Ele tinha sempre a palavra certeira!

    ResponderEliminar
  3. muito bom! Tenho reparado que prefiro ler poesia do que ler textos. A poesia sintetiza, em segundos captamos o que o poeta quer dizer. Gostei muito do post!

    ResponderEliminar
  4. Ainda não li um poema de Eugénio de Andrade de que não gostasse muito.
    Este ainda não conhecia. E é belíssimo!
    Obrigada.

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos