Pequenas coisas |
Falar do trigo e não dizer |
Turner na liberdade das suas aguarelas dá-nos a emoção do olhar e do sentir em estado puro.Este espaço propõe-se convocar, pela voz dos que sabem, múltiplos instantes de vida: luz e sombra; esquecimento e memória; vida e morte...
"Seja qual fôr o caminho que eu escolher um poeta já passou por ele antes de mim"
S. Freud
sábado, maio 31, 2008
Pequenas coisas
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
sexta-feira, maio 30, 2008
Foi no recalcamento da palavra que nos formámos...
(Hammershoi)
Mas não é igual para todos o silêncio.
Veja-se, por exemplo, o que acontece com as mulheres. Elas que têm a reputação de faladoras, sabem bem o que é calar-se, ou melhor, a eficácia do não-dito. Conhecem a vantagem tantas vezes medonha do mutismo. É no inconfessável que rescrevem a sua história, conquistando pequenos e grandes poderes.
Não é muito diferente o silêncio confuso da infância. Foi no recalcamento da palavra que nos formámos. Foi no "não chores", foi no "cala-te"que começámos a medir a extensão do nosso desamparo. E se pensarmos nos idosos, concluímos que o silêncio tem não só sexo, mas também idades preferidas. Nestes casos dá origem a subentendidos que são a expressão da solidão, quando não da dissidência.
Porque é inodoro , incolor e intocável, porque não tem princípio nem fins conhecidos, o tempo vive numa clandestinidade silenciosa que o tornaria imperceptível se não fosse o contra-poder da memória que é a utopia onde o passado e o presente se encontram. Quando dizemos: lembras-te? estamos a querer resistir ao tempo que, silente, passa. É que, na sua vertigem absoluta e muda, o tempo ignora datas. Por isso é que as efemérides são um contratempo, uma reminescência parada e espectral. É o que chamamos melancolia, território habitado por hirtos fantasmas que só pensam voltar a si rodeados por detritos. (...)É uma compensação infeliz à energia devastadora da sua passagem. É um pálido e exausto fantasma. Exausto, pálido e sonhador porque não há lembranças felizes. Todo o ontem é inconsolável mesmo que não proteste contra a falsa novidade do hoje. É como aquele professor que depois de ter passado vários anos na prisão, recomeçou as aulas assim: "Como vos tinha dito ontem..."mostrando, deste modo, simples e sofrido, que o tempo passa mas é o mesmo, unido pelos dois extremos do silêncio.
Veja-se, por exemplo, o que acontece com as mulheres. Elas que têm a reputação de faladoras, sabem bem o que é calar-se, ou melhor, a eficácia do não-dito. Conhecem a vantagem tantas vezes medonha do mutismo. É no inconfessável que rescrevem a sua história, conquistando pequenos e grandes poderes.
Não é muito diferente o silêncio confuso da infância. Foi no recalcamento da palavra que nos formámos. Foi no "não chores", foi no "cala-te"que começámos a medir a extensão do nosso desamparo. E se pensarmos nos idosos, concluímos que o silêncio tem não só sexo, mas também idades preferidas. Nestes casos dá origem a subentendidos que são a expressão da solidão, quando não da dissidência.
Porque é inodoro , incolor e intocável, porque não tem princípio nem fins conhecidos, o tempo vive numa clandestinidade silenciosa que o tornaria imperceptível se não fosse o contra-poder da memória que é a utopia onde o passado e o presente se encontram. Quando dizemos: lembras-te? estamos a querer resistir ao tempo que, silente, passa. É que, na sua vertigem absoluta e muda, o tempo ignora datas. Por isso é que as efemérides são um contratempo, uma reminescência parada e espectral. É o que chamamos melancolia, território habitado por hirtos fantasmas que só pensam voltar a si rodeados por detritos. (...)É uma compensação infeliz à energia devastadora da sua passagem. É um pálido e exausto fantasma. Exausto, pálido e sonhador porque não há lembranças felizes. Todo o ontem é inconsolável mesmo que não proteste contra a falsa novidade do hoje. É como aquele professor que depois de ter passado vários anos na prisão, recomeçou as aulas assim: "Como vos tinha dito ontem..."mostrando, deste modo, simples e sofrido, que o tempo passa mas é o mesmo, unido pelos dois extremos do silêncio.
(Fernando Gandra- O Sossego como problema( peregrinatio ad loca utopica)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quinta-feira, maio 29, 2008
Só elas são ...
Só as tuas mãos trazem frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, e dos choupos,
carregados de sombra e rasos de água.
Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos.
(Eugénio de Andrade- As Mãos e os Frutos)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quarta-feira, maio 28, 2008
Alfonsina y el mar
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
terça-feira, maio 27, 2008
Atravessar o rio sem lhe tocar...
Epígrafe
As pontes multiplicam o cansaço. Porém, há duas margens para o deslumbramento
nas cidades felizes, é costume atravessar o rio sem lhe tocar.
(Manuela Parreira da Silva- O Album de Vishnu)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
segunda-feira, maio 26, 2008
É por outro real em ti presente...
Se nas palavras vou um pouco sempre
adiantado, como uma quimera
daquelas bem reais que têm bico
e corpo de lagarto? e rosto humano?
é que também não vivo neste instante
mas noutro, inteiramente coincidente.
Jamais aceitarei que o mundo seja
vago manto enrugado de montanhas,
alguns bichos na água, outros em terra,
outros voando em fútil incerteza.
Se me prendo ao teu rumor ausente
não é que me consuma numa imagem
ou deseje real o imaginado;
é por outro real em ti presente.
(António Franco Alexandre- Duende)
adiantado, como uma quimera
daquelas bem reais que têm bico
e corpo de lagarto? e rosto humano?
é que também não vivo neste instante
mas noutro, inteiramente coincidente.
Jamais aceitarei que o mundo seja
vago manto enrugado de montanhas,
alguns bichos na água, outros em terra,
outros voando em fútil incerteza.
Se me prendo ao teu rumor ausente
não é que me consuma numa imagem
ou deseje real o imaginado;
é por outro real em ti presente.
(António Franco Alexandre- Duende)
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
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domingo, maio 25, 2008
De Sábado para Domingo...um filme (Charles Chaplin)
Olhar o mundo à minha volta,
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sábado, maio 24, 2008
É dentro da cabeça
O Tempo que nos cabe (ainda)
É dentro da cabeça,
lá dentro,
que o tempo nos consome
e nos faz falta.
Não há chuva morna
nem sol
que nos aqueça, quando
nos falta o sopro,
a luz, a cega fé que nos mantém
despertos, quando
por fora, o corpo
já anuncia a noite
mais profunda.
Por isso,
é dentro da cabeça,
cá dentro,
para lá dos céus,
antes que o mar termine,
nesta imensa confusão
de meridianos
que nos dói e nos deslumbra,
que se aloja o segredo
indecifrável:
a cor, o som, a luz
que nos conforta,
neste intensamente breve
instante
que é o tempo que nos cabe.
(António Mega Ferreira- O Tempo que nos cabe)
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sexta-feira, maio 23, 2008
Schubert Impromptus Op. 90, N. 3, D 899 - Maria João Pires
Olhar o mundo à minha volta,
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quinta-feira, maio 22, 2008
Um amigo é uma história que nos salva...
Um amigo
Num daqueles dias de outono, em que nos queima a vermelha labareda das folhas, um amigo pedia que lhe contasse uma história. «Salva-me a vida, conta-me uma história». E eu recordei aquela mulher das Mil e Uma Noites, que encadeava, com doçura e desespero, uma história na outra, pois só a história infinita nos permite escapar à maldição da morte.
Um amigo é uma história que nos salva.
(Mário Rui de Oliveira-O vento da noite)
Um amigo é uma história que nos salva.
(Mário Rui de Oliveira-O vento da noite)
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quarta-feira, maio 21, 2008
Addiragram |
Saudavam com alvoroço as coisas
Novas
O mundo parecia criado nessa mesma
Manhã
(Sophia de Mello Breyner Andresen-Ilhas)
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terça-feira, maio 20, 2008
Estou a construir uma catedral
O nascimento da palavra provoca a derrota das coisas. Vitoriosas numa primeira fase, elas impõem-se na nossa memória, mas desde que nos tornamos capazes de fabricar símbolos, de colocar ali um objecto que representa outro, o nosso mundo íntimo pode colocar pensamentos no lugar de coisas.
Para ilustrar até que ponto habitamos este novo mundo, atribuí muitas vezes a seguinte fábula a Charles Péguy. A caminho de Chartres, Péguy vê à beira da estrada um homem a partir pedras com um grande malho. Tem a infelicidade estampada no rosto e a raiva nos gestos. Péguy pára e pergunta:« O que está a fazer, senhor?»Não está a ver-responde o homem- que só consegui este trabalho estúpido e doloroso.»Um pouco mais longe, Péguy vê outro homem também a partir pedras, mas o seu rosto é calmo e os gestos são harmoniosos. «O que está a fazer, senhor?pergunta-lhe Péguy. «Ora bem, ganho a vida graças a este trabalho cansativo mas tem a vantagem de ser ao ar livre», responde-lhe. Mais longe ainda, um terceiro pedreiro irradia alegria. Sorri ao bater com o malho e observa com prazer os bocados de pedra. «O que está a fazer?» pergunta- lhe Péguy. «Eu- responde o homem- estou a construir uma catedral!»
A pedra desprovida de sentido submete o infeliz à realidade, ao imediato que não dá nada a entender senão o peso do malho e o sofrimento do golpe. Enquanto aquele que tem uma catedral na cabeça transfigura a pedra e experimenta o sentimento de elevação e de beleza que provoca a imagem da catedral que já se orgulha. Mas oculta-se um mistério no mundo íntimo dos pedreiros: porque razões alguns têm uma catedral na cabeça enquanto outros apenas vêem pedras?
Sem memória e sem esperança viveríamos num mundo sem razão. Para suportarmos a prisão do presente, preencheríamos então este mundo de prazeres imediatos. Esta adaptação comportamental dar-nos-ia prazeres fáceis, mas os divertimentos instantâneos conduzem à acrimónia pois o prazer constante não é possível Qualquer sabor que se prolongue provoca indiferença, depois a aversão e até mesmo o sofrimento. Esperar da vida apenas prazeres imediatos conduz à amargura e à agressividade face à primeira frustração. Uma vida dedicada ao prazer leva-nos ao desespero tanto como uma vida sem prazer.
(Boris Cyrlunik- O Amor que cura-Ésquilo edições)
Para ilustrar até que ponto habitamos este novo mundo, atribuí muitas vezes a seguinte fábula a Charles Péguy. A caminho de Chartres, Péguy vê à beira da estrada um homem a partir pedras com um grande malho. Tem a infelicidade estampada no rosto e a raiva nos gestos. Péguy pára e pergunta:« O que está a fazer, senhor?»Não está a ver-responde o homem- que só consegui este trabalho estúpido e doloroso.»Um pouco mais longe, Péguy vê outro homem também a partir pedras, mas o seu rosto é calmo e os gestos são harmoniosos. «O que está a fazer, senhor?pergunta-lhe Péguy. «Ora bem, ganho a vida graças a este trabalho cansativo mas tem a vantagem de ser ao ar livre», responde-lhe. Mais longe ainda, um terceiro pedreiro irradia alegria. Sorri ao bater com o malho e observa com prazer os bocados de pedra. «O que está a fazer?» pergunta- lhe Péguy. «Eu- responde o homem- estou a construir uma catedral!»
A pedra desprovida de sentido submete o infeliz à realidade, ao imediato que não dá nada a entender senão o peso do malho e o sofrimento do golpe. Enquanto aquele que tem uma catedral na cabeça transfigura a pedra e experimenta o sentimento de elevação e de beleza que provoca a imagem da catedral que já se orgulha. Mas oculta-se um mistério no mundo íntimo dos pedreiros: porque razões alguns têm uma catedral na cabeça enquanto outros apenas vêem pedras?
Sem memória e sem esperança viveríamos num mundo sem razão. Para suportarmos a prisão do presente, preencheríamos então este mundo de prazeres imediatos. Esta adaptação comportamental dar-nos-ia prazeres fáceis, mas os divertimentos instantâneos conduzem à acrimónia pois o prazer constante não é possível Qualquer sabor que se prolongue provoca indiferença, depois a aversão e até mesmo o sofrimento. Esperar da vida apenas prazeres imediatos conduz à amargura e à agressividade face à primeira frustração. Uma vida dedicada ao prazer leva-nos ao desespero tanto como uma vida sem prazer.
(Boris Cyrlunik- O Amor que cura-Ésquilo edições)
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segunda-feira, maio 19, 2008
Amor é olhar total...
Aguarelas de Turner |
Amor é o olhar total, que nunca pode
ser cantado nos poemas ou na música,
porque é tão-só próprio e bastante,
em si mesmo absoluto táctil,
que me cega, como a chuva cai
na minha cara, de faces nuas,
oferecidas sempre à água.
(Fiama Hasse de Pais Brandão)
ser cantado nos poemas ou na música,
porque é tão-só próprio e bastante,
em si mesmo absoluto táctil,
que me cega, como a chuva cai
na minha cara, de faces nuas,
oferecidas sempre à água.
(Fiama Hasse de Pais Brandão)
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domingo, maio 18, 2008
De Sábado para Domingo...um filme- Hable con ella
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sábado, maio 17, 2008
Lembrando Violeta Parra
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sexta-feira, maio 16, 2008
E ela resiste, no isolamento,,,
Epigrama nº 5
Gosto da gota d'água que se equilibra
na folha rasa, tremendo ao vento.
Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra:
e ela resiste, no isolamento.
Seu cristal simples reprime a forma, no instante incerto:
pronto a cair, pronto a ficar-límpido e exacto.
E a folha é um pequeno deserto
para a imensidade do acto.
(Cecília Meireles- Antologia Poética)
Gosto da gota d'água que se equilibra
na folha rasa, tremendo ao vento.
Todo o universo, no oceano do ar, secreto vibra:
e ela resiste, no isolamento.
Seu cristal simples reprime a forma, no instante incerto:
pronto a cair, pronto a ficar-límpido e exacto.
E a folha é um pequeno deserto
para a imensidade do acto.
(Cecília Meireles- Antologia Poética)
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quinta-feira, maio 15, 2008
Entre estes dois extremos existe o ruído interrupto do mundo
(Gaugin)
Vimos do silêncio e para o silêncio. Depois do fim e antes do princípio estamos reduzidos à utopia absoluta da sonoridade zero, daí as suas naturezas mortas. Mas entre estes dois extremos existe o ruído ininterrupto do mundo. Até na ruralidade mais profunda de uma ilha do Pacífico zumbem insectos, piam aves nocturnas, há latidos esparsos de cães.O vento agita levemente as folhas, os troncos rangem devagar e o fresco rumor dos ribeiros só tem repouso quando, hipótese improvável, secam. Daí que o silêncio seja sempre mais um estado afectivo do que uma constatação objectiva. (...) Quando entramos na imobilidade sonora dos grandes espaços utópicos- o mar, a montanha ou o deserto- é como se entrássemos num templo a céu aberto com vitrais imaginários. A qualidade sonora do lugar mede-se pela cumplicidade silenciosa que permite, pelo recolhimento que suscita, pelo sentimento de distante presença que induz. É a este propósito que se fala de"genius loci" e de "química do instante" que são dois modos de dizer que está provisoriamente suspenso o que nos separa dos outros, da natureza e de nós próprios.
Foi desse refúgio insonorizado do Pacífico, dessa utopia muda, que Gauguin nos remeteu o brilho triste e prodigioso das suas telas. Admiramo-las com a respiração suspensa, contribuindo deste modo para que o silêncio seja, agora sim, o mais possível absoluto.
(Fernando Gandra- O Sossego como problema(peregrinatio ad loca utopica). Fenda
Lançamento do livro de Fernando Gandra na Casa Fernando Pessoa, amanhã ,16 de Maio pelas 18h e 30m apresentado pelo Prof. Doutor Diogo Pires Aurélio
http://mundopessoa.blogs.sapo.pt/
Foi desse refúgio insonorizado do Pacífico, dessa utopia muda, que Gauguin nos remeteu o brilho triste e prodigioso das suas telas. Admiramo-las com a respiração suspensa, contribuindo deste modo para que o silêncio seja, agora sim, o mais possível absoluto.
(Fernando Gandra- O Sossego como problema(peregrinatio ad loca utopica). Fenda
Lançamento do livro de Fernando Gandra na Casa Fernando Pessoa, amanhã ,16 de Maio pelas 18h e 30m apresentado pelo Prof. Doutor Diogo Pires Aurélio
http://mundopessoa.blogs.sapo.pt/
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gostar dos que me são queridos,
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quarta-feira, maio 14, 2008
Chopin- Estude op 10 , nº 3 -Valentina Igoshina
Olhar o mundo à minha volta,
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terça-feira, maio 13, 2008
3 ANOS, já !
A melhor maneira de festejar estes três anos é fazê-lo, homenageando o grande pintor Turner, a quem fui roubar o nome para o blog. Hoje é dia de Festa! Sentem-se e vejam comigo este documentário. Os parabéns ficam para o fim. Um beijinho a todos os amigos.
Olhar o mundo à minha volta,
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segunda-feira, maio 12, 2008
É uma sombra ....imaginada sobre a mesa...
a sombra, o gato
vejo atrás dos vidros
no jardim o gato
siamês que passa
entre girassóis.
na mesa da sala
há mais girassóis
num pote azul
de faiança
às cinco da tarde
a janela,
a porta,
estão fechadas, mas
agora o gato
vai passar na penumbra,
entre os girassóis
e a parede.
é uma sombra
rapidamente
imaginada
sobre a mesa,
que fita em ponto,
de olhos límpidos,
e percebe o jogo
de espaços e que
já regressou ágil
de salto felino
ao corpo do gato
repentino lá fora.
(Vasco Graça Moura- a sombra das figuras-1985)
vejo atrás dos vidros
no jardim o gato
siamês que passa
entre girassóis.
na mesa da sala
há mais girassóis
num pote azul
de faiança
às cinco da tarde
a janela,
a porta,
estão fechadas, mas
agora o gato
vai passar na penumbra,
entre os girassóis
e a parede.
é uma sombra
rapidamente
imaginada
sobre a mesa,
que fita em ponto,
de olhos límpidos,
e percebe o jogo
de espaços e que
já regressou ágil
de salto felino
ao corpo do gato
repentino lá fora.
(Vasco Graça Moura- a sombra das figuras-1985)
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domingo, maio 11, 2008
Manhã de Domingo- Villaret e Pessoa
Agarrada ao computador para pôr de pé um trabalho não resisti a publicar esta maravilhosa leitura de Pessoa. Façam o que eu não posso fazer...
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
De Sábado para Domingo...um filme (Amacord- Fellini)
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sábado, maio 10, 2008
Um projecto que vai até à extremidade do possível...
(...)
Aqui reside a diferença entre desejar e querer. Querer é mais vasto que desejar. Desejar é mais antigo e primordial. Querer é mais complexo e exigente. Além disso desejar é passivo e irresponsável- não responde pelas consequências. Querer é activo e assume-as. É por isso que o desejo pode sobreviver ao querer quando este já se declarou incapaz. Um indeciso pode manifestar desejos, mas não pode sustentar o querer. Quando quero dirijo-me a circunstâncias exteriores desconhecidas ou aleatórias, tantas vezes rudes e hostis. Quando desejo penso em mim, no máximo em ti. É por isso que uma grande parte dos desejos se esgota antes de poderem ser formulados. E é por isso, mais que não seja por isso, que pelo menos esses, são irrealizáveis. Querer é dizer ao instante vivido: espero-te mais à frente, tenho um projecto que vai até à extremidade do possível. Desejar é dizer-lhe: fiquemos por aqui,nesta espécie de "relâmpago íntimo"(F.Pessoa).
Fernando Gandra- O Sossego como Problema (peregrinatio ad loca utopica). Fenda
Fernando Gandra- O Sossego como Problema (peregrinatio ad loca utopica). Fenda
Olhar o mundo à minha volta,
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usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quinta-feira, maio 08, 2008
Mas por um vago florir...
Como quem já lhe falou
Não o que penso, nem bem
Não o que penso, nem bem
O que sinto, mas o que sou.
Não por palavras- até
Poucas palavras é vão,
E um sorriso ou olhar é
Como fala a canção-,
Mas por um vago florir
Da alma à flor do dizer,
Da alma à flor do dizer,
Que não chegasse a abrir
Em voz, em símbolo, ou ser...
Um intervalo ou olvido
Do gesto ou da expressão
Que fique no olhar ou no ouvido
Como sendo do coração.
(Fernando Pessoa- 21-3-1928)
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quarta-feira, maio 07, 2008
Longe, Perto: o Horizonte
A linha do horizonte situa-se no ponto indefinido onde o céu e a terra se unem. É indefinido porque recua à medida que avançamos. A linha do horizonte só é fixa e acessível à distância.
Na verdade, nunca temos o que queremos. Nem teremos. É o não-ter ou o não-ter-ainda que alimenta o desejo. É o vazio que sustenta a avidez. O já-ter extingue o desejo. A vivência do ainda-não-ter ensina-nos a esperar, a ter esperança, categoria mental em que o tempo é simultâneamente castigo e recompensa. Não-ter coloca-nos num estado de tensão que nos desestabiliza e nos obriga a dirigir para o exterior de nós mesmos, a partir à aventura sem objecto ou com objectos provisórios e frustrantes, nada pacificadores do desejo inicial que assim muda de direcção em pleno movimento. Isto, quer se dirija ao pão, à mulher ou ao poder.
É assim que nenhum desejo permanece igual a si próprio, nem se pode considerar definitivo: tem um carácter errático, inconstante e múltiplo.
Fernando Gandra- O Sossego como problema (peregrinatio ad loca utopica). Fenda, Edições.
Na verdade, nunca temos o que queremos. Nem teremos. É o não-ter ou o não-ter-ainda que alimenta o desejo. É o vazio que sustenta a avidez. O já-ter extingue o desejo. A vivência do ainda-não-ter ensina-nos a esperar, a ter esperança, categoria mental em que o tempo é simultâneamente castigo e recompensa. Não-ter coloca-nos num estado de tensão que nos desestabiliza e nos obriga a dirigir para o exterior de nós mesmos, a partir à aventura sem objecto ou com objectos provisórios e frustrantes, nada pacificadores do desejo inicial que assim muda de direcção em pleno movimento. Isto, quer se dirija ao pão, à mulher ou ao poder.
É assim que nenhum desejo permanece igual a si próprio, nem se pode considerar definitivo: tem um carácter errático, inconstante e múltiplo.
Fernando Gandra- O Sossego como problema (peregrinatio ad loca utopica). Fenda, Edições.
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terça-feira, maio 06, 2008
Maio, Maduro Maio - Madredeus
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segunda-feira, maio 05, 2008
Querer é tornar-se aquilo que essencialmente se é...
As pessoas parecem assombradas e fascinadas quando falo do efeito que esta visita à Grécia produziu em mim. Dizem que me invejam e desejam poder, um dia, ir lá elas mesmas. Porque não vão? Porque ninguém pode saborear a experiência que deseja enquanto não estiver preparado para ela. As pessoas raramente querem dizer o que dizem. Qualquer pessoa que diz estar ansiosa por fazer alguma coisa que não seja o que está a fazer, ou estar em qualquer outro lugar, está a mentir a si mesma. Querer não é meramente desejar. Querer é tornar-se aquilo que essencialmente se é. Alguns homens, quando lerem isto, dar-se-ão inevitavelmente conta de que não há nada a fazer além de pôr em prática o que desejam. Uma frase de Maeterlinck a respeito da verdade e da acção modificou toda a minha concepção da vida. Levei quarenta e cinco anos para acordar para o significado da sua frase. Outros homens coordenam mais facilmente visão e acção. Mas o que importa é que na Grécia consegui finalmente essa coordenação. Desinflei, fui restituído às proporções humanas apropriadas, preparado para aceitar a minha sorte e dar tudo quanto recebi. Parado no túmulo de Agamémnon, passei por um verdadeiro renascimento. Não me interessa minimamente o que as pessoas pensam ou dizem quando lerem semelhante declaração. Não tenho desejo de converter alguém ao meu modo de penar. Agora sei que qualquer influência que possa exercer sobre o mundo será o resultado do exemplo que eu der, e não devida às minhas palavras. Faço este relato da minha viagem não como um contributo para o saber humano, porque o meu saber é pequeno e pouco importante, mas sim como um contributo para a experiência humana. Há sem dúvida alguma erros de uma natureza ou outra neste relato, mas a verdade é que me aconteceu alguma coisa e eu transmiti o mais verdadeiramente que soube.(cont.)
(Henry Miller- O Colosso de Maroussi)
(Henry Miller- O Colosso de Maroussi)
Foi com prazer que vos conduzi por muitos dos lugares que visitei em Creta. O "guião" foi a minha inseparável máquina fotográfica digital que me permite disparar, sem parcimónia, ao sabor do que vou gostando de ver. Desejei ainda transmitir-vos o meu sentir do que Creta me foi dando . Durante todo este tempo perguntei-me o que me levava a querer levar a "viagem" até ao fim (?) Vieram-me à lembrança as leituras que o meu pai nos fazia,todas as noites, da "Volta ao Mundo " de Ferreira de Castro...Viajamos também para poder partilhar. Agora, também sabe bem voltar ao estilo antigo do Blog, como quem regressa a casa ...
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domingo, maio 04, 2008
Notas de Viagem-Creta- a longa travessia até Sítia..
Sair de Agios Nikolaos em direcção a Sítia parece fácil. Não o é, contudo. Uma estrada de montanha sempre em curvas apertadas.......São 75 Kms feitos em uma hora e meia...Mas o percurso e a chegada valeram a pena. Este foi o extremo mais oriental de Creta a que cheguei.
http://www.interkriti.org/visits/sitia.html
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sábado, maio 03, 2008
Notas de viagem-Creta- A montanha, outra travessia...
Esta "viagem "a Creta está quase a chegar ao fim. Façam comigo a travessia desta formidável garganta....
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sexta-feira, maio 02, 2008
Nós também estamos a criar mitos...
A tragédia da Grécia não está na destruição de uma grande cultura, mas no malogro de uma grande visão. Dizemos erradamente que os Gregos humanizaram os deuses. Foi exactamente o contrário. Os deuses humanizaram os Gregos. Houve um momento em que pareceu que o verdadeiro significado da vida tinha sido apreendido, um momento anelante em que o destino de toda a espécie humana esteve em perigo. O momento perdeu-se na fogueira do poder que tragou os inebriados Gregos. Eles fizeram mitologia de uma realidade que era demasiado grande para a sua compreensão humana. Nós esquecemos, no nosso encantamento com o mito, que ele nasceu da realidade e fundamentalmente não é diferente de nenhuma outra forma de criação, a não ser no facto de ter que ver com o próprio amâgo da vida. Nós também estamos a criar mitos, embora talvez não tenhamos consciência disso. Mas nos nossos mitos não há lugar para os deuses. Estamos a construir um mundo desumanizado, abstracto, sobre as cinzas de um materialismo ilusório. Estamos a provar a nós mesmos que o Universo é vazio, uma tarefa que é justificada pela nossa própria lógica vazia. Estamos determinados a conquistar, e conquistaremos, mas a conquista é a morte.(cont.)
(Henry Miller- O colosso de Maroussi)
(Henry Miller- O colosso de Maroussi)
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usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
quinta-feira, maio 01, 2008
Notas de Viagem-Creta-Agios Nikolaos
http://en.wikipedia.org/wiki/Agios_Nikolaos,_Crete
Agios NiKolaos conquistou-me. As suas magníficas esplanadas e restaurantes em torno de um lago interior fizeram-me sonhar deixar-me ficar por aqui, numa daquelas férias em que o tempo se imobiliza para nos permitir viver, quase exclusivamente, ao sabor do instante.
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
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