
Não havia mais ninguém neste mundo que ali pudesse estar para reparar, para testemunhar comigo aquele milagre, enquanto o universo parecia contrair-se no canto sinistro de uma velha loja de quinquilharias, e a eternidade se comprimia naquele momento em que varri a crosta da capa daquele livro bizarro. Tal como a pele de um peixe-trombeta bastardo apanhado à noite, a capa do livro transformou-se numa constelação de pontos púrpura pulsantes. Quanto mais limpava mais pontos apareciam, até a maior parte da capa ficar a brilhar. E, tal como o pescador nocturno que apanhou o peixe- trombeteiro bastardo, os pontos fosforescentes espalharam-se do livro para as minhas mãos, até ficarem cobertas de sardas púrpura, a piscar em esplêndida dissonância, tal como as luzes de uma cidade exótica e desconhecida vistas de um avião. Ao colocar as mãos luminosas em frente ao rosto, virando-as lentamente, maravilhado-mãos tão familiares, contudo tão alienígenas- era como se já tivesse começado uma perturbadora metamorfose.
(Richard Flanagan- O Livro dos Peixes de Gould)
o excero é muito bonito. O livro deve ser ainda mais.
ResponderEliminaro excerto era a palavra que eu queria escrever.
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