sábado, abril 07, 2007

Zumbido canta a Primavera


(Doisneau)

Se, na frieza destes dias,
eu fosse capaz de sentir a primavera
e acreditar que no subterrâneo das evidências
se desenvolvia a desordem natural das coisas,
talvez fosse capaz de escrever,
com legítima segurança,
sobre a maneira eficaz
que a natureza tem de celebrar os ciclos.

Diria então
que cada palavra tem ao seu alcance
um universo que nasce de um momento
ou de uma pausa
e cresce inútil na veemência e no acento
com que procura o rosto opaco que a recebe.

Como a moeda, cara ou coroa,
deixa ao destino o sentido
e perde, uma a uma todas as sílabas do ritmo.

Mas, o aquecimento global da verdade,
trouxe para o horizonte novas ordens,
e no lugar das marés cintilantes
arrefeceu em vagas o calor da pele.

Esperamos então que a seguir,
no rescaldo dos dias perdidos,
o calendário natural se cumpra.


Zumbido

3 comentários:

  1. As palavras certas que nos mostram o inelutável da vida... mesmo com as palavras certas!

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  2. lindo... mas com a marca da passividade de quem aguarda a natural sequência das coisas.

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