(Gauguin)
O Velho Fausto parecia um Domingo. Costumava vê-lo, manhã cedo, cruzar o passeio, pisando sem ruído as flores das acácias, muito aprumado no seu fato de linho branco, chapéu de palha, laço e bengala, e tão sem pressa, meu Deus!cumprimentando com acenos lentos(largos sorrisos) a turba ansiosa. Um dia alguém o provocou:
«Afinal, o que faz você nos dias úteis?»
Ele sorriu, ainda mais generoso, e o claro fulgor dos seus dentes perfeitos cegou o atrevido:
«Todos os meus dias são inúteis», respondeu com solene orgulho: «Eu os passeio.»
Durante muitos anos, devo confessar, quiz ser como ele.Hoje sei que pecava por excessiva ambição.Trabalhando intensamente qualquer pessoa é capaz de alcançar, no fim da vida, relativa prosperidade e a admiração dos outros. Um ladrão hábil pode ficar rico em dez ou quinze anos. A conquista do poder também impõe considerável esforço; isto, já para não falar em santidade ou heroicidade. A inutilidade, porém,
exige algo de mais difícil:talento.Nem todos podem ser inúteis, realmente inúteis, da mesma forma que poucos conseguem fazer chorar um violino. Também nem todos merecem ser inúteis.Fausto, sim, era inútil- e merecia-o. Foi, enquanto viveu, ocioso e magnífico como uma bela tela de Gauguin.
José Eduardo Agualusa (O homem que parecia um domingo. Contos e crónicas)
Turner na liberdade das suas aguarelas dá-nos a emoção do olhar e do sentir em estado puro.Este espaço propõe-se convocar, pela voz dos que sabem, múltiplos instantes de vida: luz e sombra; esquecimento e memória; vida e morte...
"Seja qual fôr o caminho que eu escolher um poeta já passou por ele antes de mim"
S. Freud
sexta-feira, setembro 22, 2006
Ocioso e magnífico como uma tela de Gauguin
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
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Gosto muito do Agualusa. E aqui parece-me muito bem acompanhado!
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