terça-feira, novembro 07, 2006

Como ter uma opinião ?

(Dawn)

Sim, talvez ela gostasse de que lhe perguntasse qual o nosso destino ou de que, afinal, lhe dissesse qualquer coisa sobre a minha partida, ou sobretudo o crepúsculo, ou sobre o mar, ou sobre o andamento do barco, ou mesmo sobre os sentimentos que me assaltavam por me encontrar a bordo, assim subitamente, depois de ter passado oito anos no Registo civil ignorando que este barco existia, que ela existia, que ele existia, enquanto passava certidões de nascimento, que existiam mulheres como ela que consagravam a existência à procura de marinheiros de Gibraltar.
De tanto a ouvir passar e voltar por trás de mim, poderia pensar que esperava a minha opinião sobre estas coisas tão novas para mim, para me vigiar, por assim dizer, mas sem se aperceber. Mas, como ter uma opinião, mesmo sobre um crepúsculo, mesmo sobre o estado do mar? A partir do momento do embarque, e mesmo assim sem assim decidirmos, impossível ter uma opinião,mesmo sobre o sol-poente.

Marguerite Duras (O Marinheiro de Gibraltar)

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