( Picasso)
Arte da Pesca
Fala-se de pesca com expressões depreciativas, como , por exemplo, « dar banho à minhoca».E os pescadores são vistos, no mínimo, como lunáticos. Talvez sejam. Mas a pesca, ao contrário do que se pensa, requer uma total concentração. É um desporto activo, não passivo. Tal como a poesia, é tensa, densa, intensa. E tem como a caça, algo de mágico, iniciático, primordial. É quase um ritual litúrgico, uma forma de oficiar. Um reencontro do homem consigo mesmo, só perante as águas e o mistério. O momento mais intenso é aquele em que se adivinha o ataque.Há como que um contacto magnético entre o homem e o peixe.
Pescar não é esperar passivamente que o peixe morda. A pesca é um desporto de imaginação, criatividade, intuição. Acima de tudo sensibilidade. E também acção, muita acção,. Que muitas vezes começa antes, em casa, na loja de pesca, na escolha e preparação do material, na leitura e interpretação da tábua das marés, da lua, das condições atmosféricas. É preciso saber ler a água eo tempo, sentir e presentir o peixe, escolher a hora, o local, o ângulo em que se deve colocar para lançar com eficácia. A pesca com isco artificial, a pesca com amostra, que é a que pratico, é um pesca de contínuo movimento e actividade. Não se espera o peixe, procura-se, ataca-se, vai-se até ele. Há um certo gosto do risco. Quando se tem talento, até se inventa o peixe.
Para mim a pesca é uma necessidade física e espiritual. Quando pesco, á noite, aos robalos, na Foz do Arelho, eu que não sou crente, fico de repente místico, dou por mim a fazer perguntas metafísicas e a dizer coisas absurdas, como por exemplo: talvez Deus, afinal, seja um robalo grande.Se o pescador não se precata começa a falar alto e a fazer perguntas perigosas.
Finalmente os pescadores são discretos, quase secretos. Pescar é um acto solitário, mas também de partilha. A confraria dos pescadores é provavelmente a única onde não há outra diferença que não seja o talento de cadaum naquela arte. Porque já me esquecia de dizer a pesca é uma arte.
Manuel Alegre ( A Arte de Marear)
Turner na liberdade das suas aguarelas dá-nos a emoção do olhar e do sentir em estado puro.Este espaço propõe-se convocar, pela voz dos que sabem, múltiplos instantes de vida: luz e sombra; esquecimento e memória; vida e morte...
"Seja qual fôr o caminho que eu escolher um poeta já passou por ele antes de mim"
S. Freud
sábado, julho 01, 2006
Tal com a poesia é tensa, densa ,intensa...
Olhar o mundo à minha volta,
gostar dos que me são queridos,
usar, da melhor maneira, aquilo, que julgo saber...
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Manuel Alegre e Picasso - bonito emaranhado de redes.
ResponderEliminarPassei e gostei!
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