Vieira da Silva- A saída luminosa |
Algures, nos idos de 2005, no dia 13 de maio (!!!) houve lugar ao nascimento de mais um pequeno blog: o " Aguarelas de Turner".
Nasceu da necessidade de usar a expressão estética ( poesia, pintura, literatura, e...fotografia), pedindo emprestadas palavras aos que as sabem "tocar", para falar dos estados de alma que habitam todo aquele que é Humano.
Foi bonito esse dia.
Foi assim que fui sentindo o gosto e o gozo de escolher quase diariamente o poema, o estrato do romance, a música, o pensamento filosófico...que naquele instante me faziam sentido. Depois era o prazer de ir à cata do pintor, da obra, que davam luz ...ou sombra àquelas palavras. Umas vezes tudo ocorria num instante...Outras, era uma busca incessante até a " ligação" se fazer. Nesse tempo vinha aqui com gosto, e ainda sem conhecer praticamente ninguém do universo dos blogs, não deixava de desejar "publicar".
Os dias de trabalho sempre foram árduos mas os instantes em que escolhia o que sairia naquele dia eram momentos de puro prazer. Preferia deitar-me um pouco mais tarde, mas fazer o " post do dia".
Aos poucos foram aparecendo " comentadores", uns de passagem, outros que se iam fixando, mesmo sem eu ser muito gentil em retribuições. Tinha muito pouco tempo para saltar de blog em blog e embora soubesse da existência de uma infinidade de "lugares de paragem "aliciantes , inteligentes e criativos, contentava-me com o visitar, nos meus melhores tempos, não mais do que uma dúzia deles. Mesmo assim conheci gente bonita e inteligente com quem construí amizade e de quem me tornei amiga, ou por quem nutri ou nutro grande simpatia. Foi um tempo de um certo fascínio, quase adolescentil, onde a interacção quando funcionava, trazia a alegria da descoberta do outro. Claro que houve gente que não deixou marcas. Mas os que as deixaram, foram, à semelhança dos amigos não-virtuais, genericamente muito enriquecedoras. Mas este tempo foi tempo também de tristeza. De tristeza e de dor. Dois dos Amigos com que contactei mais proximamente partiram, precocemente. Acompanhei, à distância, o sofrimento de Torquato da Luz que conheci no seu "Ofício Diário"e com quem cheguei a ter conversas mais próximas. Ainda hoje guardo comigo os mails que trocámos e o envelope em que me enviou um dos seus livros de poemas. Sofri e chorei com a morte da saudosa Amélia Pais cujo blog "Barco de Flores ao longe" era um lugar de conhecimento, de afectos e convicções. Trocámos mails, encontramo-nos no lançamento de um dos seus livros sobre Fernando Pessoa para os garotos. Outros conhecimentos que por via do "Aguarelas de Turner" aconteceram, trouxeram, quase sempre, oportunidade para aprender e me sentir mais rica.
Se durante tanto tempo o momento de criar um post era um pequeno instante que roçava a criatividade, o tempo e os atalhos da vida , foram trazendo algum desgaste. O desaparecimento de amigos certos deixou este espaço cada vez mais cheio de dor ou povoado por uma deserta aridez. Por defesa certamente, deixei de procurar os Outros, os que, carinhosamente ainda vão passando por aqui.Que eles não me levem a mal. Os poetas e os pintores,esses, continuam a povoar as estantes do nosso coração, ao lado de todos aqueles que souberam dizer amizade..
Nove anos depois, é tempo de dizer adeus. Como não gosto da palavra Fim, e não sei o que poderá nascer amanhã, digo só que vou até lá dentro por os livros em ordem..porque nove anos de desarrumação deixaram muita coisa fora do lugar.
Um dia destes vê-mo-nos, tá?
Um beijo para todos aqueles que me encheram de alegria.
Addiragram