sábado, maio 03, 2014

Um denterrato rói esse tabique...




Foto Addiragram


Soneto da espera   

Que bem conheço a espera e o seu lanço!
Ao princípio é cadeira de balanço,
uísque, livro, fumo azul no ar.
É a espera, projecto de esperar.

Um denterrato rói esse tabique
e sobre o tempo-antes uma fresta
se abre-fecha para melhor abrir-se,
O tempo-agora já se desespessa

e o tempo-antes-cresce. Qual balanço,
uísque, livro, fumo azul- a espera!
Adulterado tempo-agora, avanço
da paixão em demência que acelera

por ilusório tempo: o de abolir,
contigo, hoje, o antes e o provir.

Alexandre O´Neill -Poesias Completas

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