segunda-feira, abril 25, 2011

25 de Abril

Fragmento do Homem
Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor. Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado, convertido em mercadoria. A obsessão do lucro foi transformando o homem num objecto com preço marcado. Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é o mais abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem. A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e máscaras.(...)

Eugénio de Andrade, in 'Os Afluentes do Silêncio' 


Comemorar Abril não poderá ser nunca transformar esta data num fetiche que se evoca para, de imediato, se desdizer. Comemorar Abril será dizer, as vezes que forem precisas, que outro Abril acontecerá quando não mais se conseguir tolerar a dor e a injustiça.

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