domingo, julho 17, 2011

A esperanca nasce. Mas como?

Comparando local a local-neolíticos e gregos na Sicília-depara-se-nos o facto de, antes de os Gregos chegarem, os homens viverem no terror da natureza rapace,dos seus excessos e da sua imprevisibilidade. Não era possível nenhuma evolução : o homem permanecia acocorado com medo, sob ameaça da extinção. Mas eis que acontece algo. A esperança nasce. Mas como? E por que razão? Ninguém no-lo sabe dizer, mas com os Gregos os homens começam a ver a natureza não como hostil e perigosa, mas sim como uma esposa e até musa- pois o seu cultivo tornou o lazer ( com todas as suas artes) possível. O que queremos dizer quando empregamos a palavra « mediterrânico» começa aí, começa no primeiro ponto vital em que Atenas entroniza a oliveira como sua rainha reinante e a lavoura grega solta o seu primeiro alento...
Estudiosos apressar-se-ão, neste tópico, com as suas advertências contra perigos de um quadro excessivamente simplificado- e na verdade a minha escolha do ponto crucial da consciência do homem é assaz arbitrária; é mais provável do que certa. Mas houve sem dúvida um tal ponto e a eleição da oliveira na Ática serve tão bem como qualquer outro. Claro que havia deuses e crenças de todas as espécies circulando ao mesmo tempo- tanto locais como importados, e é isso que torna os argumentos dos estudiosos ininvejavelmente cheios de contradições e suposições. No entanto há razões que justificam a escolha da oliveira, pois ela este misteriosamente ligada ao destino de todo o povo grego. A oliveira sagrada da Academia era um ramo de árvore primitiva da Acrópole, e em toda a Ática todas as oliveiras ditas da mesma proveniência eram chamadas moriai, ou árvores escolhidas. Propriedade de estado, a sua santidade religiosa ajudava a conservar uma grande fonte de riqueza nacional. Encontravam-se sob os cuidados directos do Areópago e eram inspeccionadas uma vez por mês. Quem arrancasse uma árvore dessas ficava sujeito a desterro e ao confisco total de todos os seus bens terrenos. Estavam sob a protecção de Zeus Morios, cujo santuário ficava perto de Atena. Um dos seus atributos era desfechar raios sobre a cabeça desses infractores.


(Lawrence Durrell-Carrocel Siciliano)

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