sexta-feira, julho 08, 2011

Escutamos uma linguagem desconhecida, e, contudo...


               (Chagall)
Ao contrário, não existe um só elemento da poesia que seja copiado do exterior. Nenhuma das suas criações recorre a um instrumento, ou à mão do homem; olhos e ouvidos nada podem detectar, pois a audição pura e simples das palavras não consegue esgotar os efeitos dessa arte secreta. É uma arte toda interior; e se os demais artistas cumulam os nossos sentidos de impressões exteriores assaz agradáveis, o poeta, esse enriquece de ideias novas, feéricas e deleitosas o santuário íntimo da nossa alma. O poeta tem o dom de mobilizar, a seu belo prazer, as forças secretas que nos habitam, e revelar-nos, através da palavra, todo um mundo grandioso e desconhecido. Como que surgidos de profundas cavernas, perpassam-nos pelo espírito os séculos passados e os séculos vindouros, a humanidade inteira, os sítios mais maravilhosos e os mais extraordinários acontecimentos, tudo quanto é susceptível de nos arrancar à banalidade do presente. Escutamos uma linguagem desconhecida e, contudo, percebemos o que quer dizer. Verdadeiro poder mágico emana das palavras dos poetas; mesmo as palavras banais adquirem na sua boca, uma estranha sonoridade, conseguem cativar os que as escutam, com todo o enbriagador encanto.
- Com o que acabam de dizer, a minha curiosidade tornou-se uma ardente impaciência- disse Heinrich.- Suplico-vos que me conteis tudo o que souberdes àcerca dos trovadores que ouvistes. Sinto um desejo insaciável de saber tudo quanto se relacione com esses seres de eleição. Tive, de repente, a impressão de já ter ouvido falar deles, mas não sei quando, talvez nos tempos da infância: não consigo lembrar-me de nada, de nada, absolutamente. No entanto, o que me dizeis parece-me perfeitamente claro e familiar-já não falando no real prazer que me dão com as vossas belas descrições...

(Novalis- Heinrich d' Ofterdingen)

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