Os filósofos antigos disputavam-se quanto à origem das ideias, mas estavam de acordo quando se tratava de odiar o trabalho. « A natureza» afirma Platão, na sua utopia social, na sua República modelo, « a natureza não fez nem sapateiros nem ferreiros; tais ocupações degradam as pessoas que as exercem, vis mercenários, miseráveis sem nome que são excluídos, devido ao seu próprio estado, dos direitos políticos. Quanto aos negociantes habituados a mentir e enganar, só serão aceites como um mal necessário. (...)
Platão e Aristóteles, esses pensadores gigantes, a cujos calcanhares os nossos Cousin, Caro e Simon só conseguem chegar ponde-se em bicos dos pés, pretendiam que os cidadãos das suas repúblicas ideiais vivessem no maior lazer, porque acrescentava Xenofonte, o « trabalho tira o tempo todo e assim não temos tempo livre para a República e para os amigos». Segundo Plutarco, o grande título de Licurgo, o « mais sábio dos homens» admirado pela posteridade, era ter concedido aos cidadãos da República tempos livres, proibindo-os de qualquer ofício.
Mas -responderão os Bastiat, os Dupanloup, os Beaulieu e companhia da moral cristã e capitalista-esses pensadores, esses filósofos, preconizavam a escravatura. Muito bem, mas poderia ser de outra maneira, dadas as condições económicas e políticas do seu tempo?(....) Mas os moralistas e os economistas do capitalismo não preconizam, a escravatura moderna? E a quem é que a escravatura capitalista concede lazeres? Aos Rothchild, aos Schneider e ás senhoras Boucicaut, inúteis e nocivos escravos dos seus vícios e dos seus criados.
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(Paul Lafargue- O Direito à Preguiça)